São Paulo, domingo, 21 de dezembro de 2008

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ZR1 ignora alma de Corvette


ZR1 chega a 330 km/h e tem consumo rodoviário de 8,5 km/l, diz a GM

Com 647 cv, o mais potente dos Chevrolet tem apenas a aparência em comum com outros Corvette

DO "NEW YORK TIMES", EM DETROIT

O Chevrolet Corvette ZR1 é o mais potente carro de linha já feito pela General Motors, uma mistura de materiais exóticos e engenharia norte-americana capaz de, ao preço de US$ 105 mil (R$ 246,4 mil), humilhar Lamborghini e devorar Ferrari.
Ainda que o estilo do ZR1 tenha o lado Las Vegas que caracteriza os demais Corvette, a única coisa que eles têm em comum é o visual. Tudo o mais que o carro oculta, incluindo o simbolismo, é diferente. É preciso encarar: o Corvette tem um problema de imagem.
Muitos dos potenciais clientes se assustam com o jeitão de carro de astro pornô envelhecido. Os estatutos do culto ao Corvette parecem determinar que todos os proprietários passem as noites de sábado em companhia de outros cultuadores, falando e polindo o mais norte-americano dos esportivos.
É possível imaginar que um Corvette ainda mais potente represente um mergulho mais fundo nesse vórtice. Mas o modelo de 647 cv (cavalos) transcende as limitações do culto. O ZR1 vai a 100 km/h em 3,5s, menos que os 3,65s do extinto Ferrari Enzo. Seus freios traseiros são poderosos como os do Bugatti Veyron, de US$ 1,6 milhão (R$ 3,8 milhões).
Enquanto um Corvette comum é mais vistoso que concorrentes como o Porsche 911, a forma familiar do ZR1 o faz parecer discreto ante rivais italianos. A semelhança com outras versões do Corvette acaba aí. Para começar, um turbocompressor, visível sob uma lâmina transparente, propicia a força espantosa do motor; os demais Corvettes respiram sem ajuda.
Além disso, o ZR1 é feito de materiais diferentes. Os viciados em esportivos recordam que, em 2006, para o Corvette Z06, a fábrica trocou a carroceria de aço e fibra de vidro por uma de liga de alumínio, fibra de carbono e magnésio. O ZR1 usa a carcaça do Z06 e adiciona tecnologia ao revestimento.

Peso-pena
Para compensar os 73 kg que o turbocompressor, as grandes rodas e os freios acarretam, o ZR1 tem teto e capô de fibra de carbono. Com 1.509 kg, é o mais pesado dos Corvette atuais, mas tem melhor relação peso/ potência que o Lamborghini Murciélago LP640 e o Ferrari 599 GTB Fiorano.
Essa máquina fez 7,26min na pista de 20,8 mil metros de Nürburgring (Alemanha), mais veloz que qualquer Porsche ou Lamborghini estradeiros.
Ao acionar o botão de partida, não espere um rugido de metaleiro. Ainda que o 6.2 V8 (oito cilindros em "V") tenha potência tempestuosa, o ZR1 desperta sem grande ruído.
Os engenheiros da GM fazem questão de ressaltar que o câmbio manual é acionado por uma embreagem de disco duplo. Segundo eles, distribuir a força do conjunto motor-câmbio em duas placas aumenta o prazer das trocas de marcha. O resultado é uma embreagem precisa. Aliás, o carro todo é assim.
Não é preciso aprender aos poucos a dirigi-lo nem ter cuidados extras para evitar abrir um buraco em forma de Corvette no muro mais próximo. Ainda que pareça impossível contê-lo, logo fica evidente que isso não é verdade: os freios, de um composto de carbono e cerâmica, devoram a velocidade. O ZR1 é um carro perfeito, então? Não, claro. Merecia um interior digno de um modelo de US$ 100 mil, e 647 cv talvez sejam demais. Mas o ZR1 se torna mais atraente por ter qualidade tão refinada que poucos o associariam a um Corvette.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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