São Paulo, domingo, 22 de junho de 2008

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Manutenção econômica

Trocar uma peça é mais barato que consertá-la após outras terem sido comprometidas; cuidado ainda reduz trânsito

FABIANO SEVERO
DA REPORTAGEM LOCAL
ROSANGELA DE MOURA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Poucas pessoas no mundo são tão cuidadosas com o carro como o engenheiro Márcio Lopes, 65. Entre sua casa, na Tijuca (zona norte do Rio), e seu trabalho, há 6.700 metros, e ele nunca foi de carro. "Deus me livre. Na volta, pode chover", explica, sem titubear.
Os pneus até já ressecaram, mas pouco importa. "Troquei por um jogo novo, está com "pelinho"." Seu Volkswagen Santana, com 15 anos de uso, ainda não atingiu 15 mil quilômetros.
Na garagem, Lopes guarda outra relíquia -um Honda Civic 2000, que marcava, há poucos dias, 2.727 quilômetros.
"Não sei como as pessoas ligam o carro e já vão saindo. Eu espero o óleo circular pelo motor e pela caixa do câmbio", conta Lopes, que guarda todas as notas fiscais de gasolina desde que comprou os carros.
Rodar tão pouco pode ter conseqüências como ressecar borrachas e enferrujar o tanque de combustível. Para problemas, Lopes conta com Onofre Bonifácio da Costa, um "mecânico ano/modelo 1935".
Tanto esmero é uma raridade, como mostra uma pesquisa feita em São Paulo em 2007. Todos os 2.111 carros vistoriados tinham problema em 1 dos 23 itens analisados pelo GMA (Grupo de Manutenção Automotiva), criado por sindicatos de autopeças e de reparadores.
Desde o ano passado, o GMA colocou São Paulo numa campanha mundial e estabeleceu junho como o mês da conscientização pela manutenção preventiva. Segundo Antônio Carlos Bento, coordenador do GMA, custa menos prevenir um problema que repará-lo.
A correia dentada do motor, por exemplo, deve ser trocada a cada 50 mil quilômetros e custa, em média, R$ 400. Esse valor pode quadruplicar se a correia arrebenta e prejudica as válvulas de admissão e de escapamento e o cabeçote.
"O norte-americano gasta, em média, US$ 1.000 [R$ 1.600] por ano com a manutenção do veículo, e o brasileiro, R$ 900, basicamente com a troca do óleo", compara Bento.

Engarrafamento
Para Sérgio Pinto, chefe do centro de treinamento da Bosch, a questão da manutenção preventiva é cultural. "O brasileiro não acredita que está investindo na sua segurança e na dos outros. Sempre se questiona: "Vou gastar dinheiro no meu carro de novo?'".
Muitos dos que fazem a manutenção, diz Pinto, só consertam o que realmente incomoda no carro. "Se ele [veículo] está "engasgando", por exemplo, logo levam ao mecânico. Mas, no amortecedor, só mexem se está fazendo barulho, já com o óleo vazando e os batentes da suspensão estourados."
Talvez por isso a CET-SP (Companhia de Engenharia de Tráfego) socorra, por dia, 407 veículos quebrados em São Paulo: 54% têm falhas mecânicas, e 20%, pane elétrica.
A CET-SP calcula que um carro enguiçado por 15 minutos numa via movimentada, como a marginal Tietê, gere 3,5 quilômetros de engarrafamento. Fazendo as contas, dá para entender o porquê de 266 quilômetros de congestionamento registrados no início de maio.


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