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São Paulo, domingo, 23 de março de 2003

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CÂMBIO AUTOMÁTICO

Diferenças de valores em relação aos modelos mecânicos inviabilizam disseminação do equipamento

Manter o pé esquerdo desocupado é caro

JOSÉ AUGUSTO AMORIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Calcula-se que um motorista paulistano que dirija por duas horas diárias troque de marcha 3.000 vezes. Cansou? É por isso que cada vez mais as montadoras oferecem a opção de câmbio automático. O problema é que o equipamento ainda é muito caro.
A diferença entre um carro com transmissão manual e sua versão automática pode passar dos 20%. Entre os nacionais com mesmo motor, o maior "degrau" fica com o Chevrolet Astra. Quem quiser deixar o pé esquerdo desocupado paga R$ 7.797 a mais.
Mas há diferenças maiores, como a do mexicano Volkswagen Bora. São R$ 13.336, pouco menos que um Fiat Mille zero.
Há dois motivos para valores tão díspares. Primeiro, as caixas automáticas são importadas. Além disso, "o volume ainda é pequeno para ter barateamento por economia de escala", diz Manoel Fernandes, gerente de marketing do produto da Volkswagen.
No caso do Astra, há um terceiro fator. O motorista é obrigado a comprar um pacote de opcionais, que inclui, entre outros, banco do motorista com regulagem de altura, ar-condicionado, faróis de neblina, alarme, luz de leitura e cinto traseiro de três pontos.
Na linha Fiat Marea, a transmissão automática é de série na versão HLX -junto com regulagem lombar do banco do motorista e frisos laterais e pára-choque pintados na cor do veículo.

Mais completo
"O câmbio automático é artigo de conforto, por isso está num carro mais completo", explica Alberto Neumann, gerente de marketing da Renault. Apenas a Scénic 2.0 conta com as duas transmissões: "Quem se preocupa mais com preço prefere a 1.6".
A Mercedes-Benz segue essa linha. "Não surtiria efeito ter uma versão sem equipamentos, mas com câmbio", afirma Roberto Gasparetti, supervisor de marketing do produto da empresa. Na Europa, todas as versões do Classe A podem receber o componente. No Brasil, só o A 190 Elegance.
O que todas as montadoras concordam é que o consumidor busca conforto. Ou seja, é mais fácil "emplacar" o câmbio automático em carros mais completos.
Na Europa, a Mercedes tem Classe E manual, mas foi uma tentativa frustrada trazer para o Brasil Classe C assim. A VW também chegou a importar Passat V6 mecânico, mas desistiu. Hoje, só com o motor 1.8 turbo há essa opção. Porém só 10% a elegem.
A Citroën desativou a linha Xsara automática, mas aposta na transmissão em um segmento superior. Dos 1.073 C5 vendidos em 2002, só 12% foram manuais.
"Quanto mais caro, mais fácil ter câmbio automático", atesta Manoel Fernandes, da VW. Os números lhe dão razão.
Neste ano, a Audi vendeu 658 A3 1.8 manual, contra 199 do automático. Com motor 1.8 turbo de 180 cavalos, fica mais de R$ 10 mil mais caro, e a proporção dos câmbios se inverte. Em janeiro e fevereiro, foram 89 manuais, contra 229 sem embreagem.

Antigo preconceito
Além do trânsito nas grandes cidades, a queda de antigos preconceitos -como falta de desempenho e agilidade- ajuda o câmbio automático a ganhar espaço. Talvez não haja nada mais esportivo que um carro de Fórmula 1, que usa esse tipo de transmissão.
"Nas últimas décadas, houve uma evolução técnica bastante acentuada. Os primeiros tinham apenas três marchas", diz Geraldo Negri Rangel, vice-presidente da AEA (Associação Brasileira de Engenharia Automotiva).
Para a psicóloga Neuza Corassa, fundadora do Centro de Psicologia Especializado em Medos, de Curitiba, não se preocupar com as marchas dá segurança. "As mulheres se sentem mais confiantes."
Como o carro não "morre", não é preciso temer quando se pára em uma ladeira, por exemplo.


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