São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2007

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Veyron e seus 1.001 cv têm 50% da produção encalhada

Cupê, de R$ 2,7 mi, está no "Guinness" como carro de série mais potente

EZRA DYER
DO "NEW YORK TIMES"

Em termos de engenharia, velocidade e potência, o Bugatti Veyron é um sucesso. A Volkswagen, sua controladora, cumpriu o plano de fazer o carro de série mais potente do mundo.
Mas, assim que alguém supera a marca estabelecida, o recorde se torna uma nota de rodapé de página nos livros de história. Isso pode explicar a razão de a metade das 300 unidades do Veyron produzidas estar encalhada. O preço também influencia a questão.
O Veyron é um tanto caro -custa US$ 1,4 milhão (R$ 2,7 milhões). Ainda que haja um grande excedente de sujeitos fanáticos por carros e ricos o bastante, o mercado não recebeu o modelo com entusiasmo.
O problema é que o carro mais caro do mundo é fabricado pela montadora cujo nome quer dizer carro do povo.
O Veyron sofre as mesmas dificuldades que o Volkswagen Phaeton: seus aspectos técnicos podem ser irreprocháveis, mas suas origens não satisfazem os esnobes adeptos de marcas de luxo. É difícil entender a decisão, já que a VW também controla a Bentley.
O tempo -e futuros leilões- dirá se o Veyron será um sucesso no mercado de colecionadores do mesmo modo que é nas pistas de testes. Mas o que se pode compreender, por enquanto, é que os poucos donos (ou arrendatários) de um Veyron têm em suas mãos as chaves de um dos mais emocionantes automóveis do mundo.
Talvez rápido demais para que o cérebro possa processar a sensação, o Veyron acelera para além de qualquer referência.
Assim que ganha tração e começa a aplicar seus 1.001 cv (cavalos) ao asfalto, toda comparação que possa ser evocada não ajudará a entender a sensação, a menos que você tenha experiência como homem-bala.

Borrão
Quando você pisa fundo no acelerador do Veyron, tem a sensação de que os demais motoristas frearam ao mesmo tempo. Mas eles continuam a 110 km/h -e você se tornou um borrão entre "guard-rails".
A primeira marcha é rápida e violenta. A segunda dura mais, mas é igualmente violenta. Por volta da terceira, você começa a se preocupar com sua carteira de habilitação e sua vida, mas, ainda assim, o ímpeto de aceleração não demonstra sinais de que pretende se atenuar.

Dor de cabeça
Essas velocidades elevadas são muito mais altas do que alguém ousa praticar em estradas "normais". Se a idéia é olhar pelo retrovisor para ver o aerofólio elevado servir como freio, é melhor esperar que a Polícia Rodoviária não esteja por perto porque esse truque só entra em operação quando a velocidade excede os 200 km/h.
Pierre-Henri Raphanel, piloto de teste da Bugatti, conhece o modelo mais que quase qualquer outra pessoa. Ele também está ciente das dores de cabeça enfrentadas para fazer do Veyron uma realidade.
Os pneus Michelin tiveram de ser criados especialmente para ele. Os engenheiros enfrentaram uma sucessão de revezes para dissipar o calor vulcânico do motor, que repousa, exposto, atrás dos passageiros -um W16 (16 cilindros em "W") visível como que ao ar livre. As qualidades óticas do pára-brisa exigem tamanha perfeição que apenas 5% das peças produzidas são aprovadas.
O cerne da história que Raphanel relata é que descobrir como permitir a utilização dos 1.001 cv é apenas um dos muitos desafios que a produção de um automóvel com velocidade de 407 km/h acarreta. Na verdade, tentar algo tão ambicioso já beira a loucura.
"A Ferrari nunca produziria um carro como esse", afirma. "Ela simplesmente não precisa.
Pode oferecer 700 cv num modelo e vender todos os 400 exemplares que produz. Por que enfrentar todos os problemas da fabricação de um carro com mais de 1.000 cv?"
É possível, mas, em alguma fábrica, já devem existir planos para produzir um carro que atinja os 408 km/h. Pode-se apostar no Koenigsegg CCX, que alega que sua velocidade máxima "supera os 394 km/h".


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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