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Veyron e seus 1.001 cv têm 50% da produção encalhada
Cupê, de R$ 2,7 mi, está no "Guinness" como carro de série mais potente
EZRA DYER
DO "NEW YORK TIMES"
Em termos de engenharia,
velocidade e potência, o Bugatti
Veyron é um sucesso. A Volkswagen, sua controladora, cumpriu o plano de fazer o carro de
série mais potente do mundo.
Mas, assim que alguém supera a marca estabelecida, o recorde se torna uma nota de rodapé de página nos livros de história. Isso pode explicar a
razão de a metade das 300 unidades do Veyron produzidas
estar encalhada. O preço também influencia a questão.
O Veyron é um tanto caro
-custa US$ 1,4 milhão (R$ 2,7
milhões). Ainda que haja um
grande excedente de sujeitos
fanáticos por carros e ricos o
bastante, o mercado não recebeu o modelo com entusiasmo.
O problema é que o carro
mais caro do mundo é fabricado pela montadora cujo nome
quer dizer carro do povo.
O Veyron sofre as mesmas
dificuldades que o Volkswagen
Phaeton: seus aspectos técnicos podem ser irreprocháveis,
mas suas origens não satisfazem os esnobes adeptos de
marcas de luxo. É difícil entender a decisão, já que a VW também controla a Bentley.
O tempo -e futuros leilões-
dirá se o Veyron será um sucesso no mercado de colecionadores do mesmo modo que é nas
pistas de testes. Mas o que se
pode compreender, por enquanto, é que os poucos donos
(ou arrendatários) de um Veyron têm em suas mãos as chaves de um dos mais emocionantes automóveis do mundo.
Talvez rápido demais para
que o cérebro possa processar a
sensação, o Veyron acelera para além de qualquer referência.
Assim que ganha tração e começa a aplicar seus 1.001 cv (cavalos) ao asfalto, toda comparação que possa ser evocada não ajudará a entender a sensação,
a menos que você tenha experiência como homem-bala.
Borrão
Quando você pisa fundo no
acelerador do Veyron, tem a
sensação de que os demais motoristas frearam ao mesmo
tempo. Mas eles continuam a
110 km/h -e você se tornou um
borrão entre "guard-rails".
A primeira marcha é rápida e
violenta. A segunda dura mais,
mas é igualmente violenta. Por
volta da terceira, você começa a
se preocupar com sua carteira
de habilitação e sua vida, mas,
ainda assim, o ímpeto de aceleração não demonstra sinais de
que pretende se atenuar.
Dor de cabeça
Essas velocidades elevadas
são muito mais altas do que alguém ousa praticar em estradas "normais". Se a idéia é olhar
pelo retrovisor para ver o aerofólio elevado servir como freio,
é melhor esperar que a Polícia
Rodoviária não esteja por perto
porque esse truque só entra em
operação quando a velocidade
excede os 200 km/h.
Pierre-Henri Raphanel, piloto de teste da Bugatti, conhece
o modelo mais que quase qualquer outra pessoa. Ele também
está ciente das dores de cabeça
enfrentadas para fazer do Veyron uma realidade.
Os pneus Michelin tiveram
de ser criados especialmente
para ele. Os engenheiros enfrentaram uma sucessão de revezes para dissipar o calor vulcânico do motor, que repousa, exposto, atrás dos passageiros
-um W16 (16 cilindros em
"W") visível como que ao ar livre. As qualidades óticas do pára-brisa exigem tamanha perfeição que apenas 5% das peças
produzidas são aprovadas.
O cerne da história que Raphanel relata é que descobrir
como permitir a utilização dos
1.001 cv é apenas um dos muitos desafios que a produção de
um automóvel com velocidade
de 407 km/h acarreta. Na verdade, tentar algo tão ambicioso
já beira a loucura.
"A Ferrari nunca produziria
um carro como esse", afirma.
"Ela simplesmente não precisa.
Pode oferecer 700 cv num modelo e vender todos os 400
exemplares que produz. Por
que enfrentar todos os problemas da fabricação de um carro
com mais de 1.000 cv?"
É possível, mas, em alguma
fábrica, já devem existir planos
para produzir um carro que
atinja os 408 km/h. Pode-se
apostar no Koenigsegg CCX,
que alega que sua velocidade
máxima "supera os 394 km/h".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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