São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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Treinamento intensivo

Medo de dirigir atinge 2 milhões de motoristas habilitados no país, mas é tratável com terapia e aula prática

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Sorridente, Isabel Cristina diz ter superado o medo de guiar seu Palio, que ficou dois anos sem sair da garagem


FABIANO SEVERO
EDITOR-ASSISTENTE DE VEÍCULOS

Reza a lenda que o cão é o melhor amigo do homem. Hoje, Isabel Cristina Moraes Gonçalves, 36, tem certeza disso.
Por causa de sua cadela Tawny, 1, a bacharel em direito criou coragem para enfrentar o Fiat Palio zerinho que mofava havia dois anos na garagem.
O motivo? Medo de dirigir. "Não era medo, era pânico. Só de pegar a chave do carro eu sentia calafrios, tremia", conta.
Até que, há um mês, ela se superou e fez a viagem da vida dela. "Fui de Santo Amaro [zona sul] à zona leste de uma só vez. Encarei aquela [av.] 23 de Maio, a Radial Leste... Ainda voltei à noite", conta, orgulhosa, ao lado de sua lhasa apso, que então fora ao veterinário.
Gonçalves é apenas uma de cerca de 2 milhões de pessoas habilitadas que têm medo do volante. Segundo o Detran-DF (Departamento Estadual de Trânsito), 6% das pessoas com carteiras B e AB evitam dirigir.
Destas, 70% são mulheres entre 30 e 60 anos. Por isso o Detran-DF criou um curso na Escola Pública de Trânsito, que diz aumentar a confiança dos motoristas.
A escola, porém, não fornece carro para testes práticos, o que acontece em algumas escolas particulares de São Paulo.
A Dirigindo Bem, por exemplo, alia a psicoterapia a aulas de rua, progressivamente. Segundo a psicóloga da escola Karin Durante, há diferentes tipos de fobia no trânsito.
A mais comum -e fácil de tratar- é o medo de dirigir e de "domar" o carro. "Ele pode ser motivado pela falta de prática de motoristas que têm a carteira e não dirigem ou ainda por um acidente, mesmo que a pessoa não tenha sido a culpada", explica a psicóloga.

Ironia do destino
Em casos mais graves, a fobia pode ser específica. "Há alunos que têm medo e não passam em ponte ou túnel, por exemplo", diz Isa de Barros, psicóloga da Escola Pública de Trânsito, de Brasília. Nesses casos, o tratamento pode levar até um ano.
Os dois exemplos, diz Barros, são motivados por excesso de ansiedade. É o caso de Antônio Marcos Evangelista, 32.
Ele sonha em ter um carro e passear com a família nos finais de semana, mas, antes de superar a dificuldade financeira, precisa controlar as mãos.
"Fico tremendo e a mão sua quando estou dirigindo e passo ao lado de um ônibus", diz. Pura ironia do destino. Durante oito horas do dia, ele trabalha exatamente dentro de um ônibus, como cobrador.
Em geral, o caminho natural do cobrador é ser promovido a motorista. "Nem pensar. Hoje não guio direito um carro pequeno, vou encarar um "busão" [ônibus] gigantesco?".
Ele já enfrentou três sessões de psicanálise e está na sétima aula da escola para habilitados. Quando chegar à 30ª, vai ver que dirigir não é um bicho de sete cabeças. Bem, talvez guiar um ônibus em São Paulo seja.


PERCA O MEDO DE DIRIGIR
Escola Cecília Bellina
(0/xx/11/5579-6146)
Escola Dirigindo bem
(0/xx/11/5521-6357)



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