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São Paulo, domingo, 24 de agosto de 2003

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ALTERAÇÃO

Oficinas adaptam carros para rodar com álcool e gasolina sem trocar o que, segundo as montadoras, seria preciso

Fábricas condenam versões "caseiras"

dos bicombustíveis

CHRISTOPHER LANGNER
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de muita pesquisa e testes de engenharia, General Motors e Volkswagen lançaram, neste ano, os seus primeiros carros bicombustíveis, que rodam com álcool, gasolina ou qualquer combinação dos dois. Já existem oficinas que oferecem produto similar, mas sem o mesmo investimento em pesquisas e testes.
Tudo o que elas fazem é trocar o chip do módulo de controle eletrônico (ECM) por um outro, adaptado, que tem os "mapas" de ignição de ambos os tipos de motor -o álcool, por exemplo, exige um tempo maior de ignição. A modificação, é claro, não recebe a bênção das montadoras.
O preço da conversão vai de R$ 300 a R$ 900. No painel, é instalada uma chave comutadora, como a usada em carros movidos a gás. Quando o tanque está quase vazio, o motorista pode usar o outro combustível, bastando, para isso, trocar a posição da chave.
O consultor de negócios Adilson Ferreira Salles, 37, fez a adaptação no Centro Automotivo Finardi e não se arrepende. De acordo com seus cálculos, ele economiza até R$ 200 por mês.
"Não precisa trocar nada além do chip. Os carros brasileiros a gasolina já saem de fábrica com componentes resistentes ao álcool", afirma Mauricio Quadrelli, dono da Quadrelli Preparações.

Economia cara
Os fabricantes discordam (leia texto nesta página). Para eles, seria necessário trocar um sem-número de componentes para permitir que o carro recebesse os dois combustíveis. Como é feita, a troca gera problemas que vão da redução da vida útil de componentes até incêndios inesperados.
Segundo o gerente de desenvolvimento e aplicação de produtos da Bosch, Sidney Barbosa de Oliveira Jr., um dos itens que mais sofrem é a bomba de combustível.
O comerciante Paulo Roberto Anis Salomão, 47, é um exemplo. Desde o ano passado, sua picape Ford Ranger XLT 95 pode ser abastecida com álcool ou gasolina. "A troca valeu a pena, pois rodo muito." Ele admite, no entanto, que, após a conversão, teve de "retocar" duas vezes uma bomba até ser obrigado a trocá-la. "Mas o problema foi o combustível que eu usava, que era adulterado."

Perdas futuras
Se o veículo tiver problemas após a conversão, dizem os mecânicos, é porque já tinha defeitos. "Primeiro avalio o carro do cliente. Se tiver problemas, conserto para depois adaptá-lo", explica Henrique Caldas, dono da oficina H. Caldas, de Vila Velha (ES).
Além do chip, algumas oficinas acrescentam um sistema de partida a frio. "Ajuda em dias frios", afirma Waldemar Gonçalves de Padua Jr., da Chipadão Eletrônica Automotiva, de Valinhos (85 km a noroeste de São Paulo).
Ronald Funari, diretor da Funari Automotiva, vai adiante. Além do chip, em alguns casos ele troca os bicos injetores (para aumentar sua vazão) e a bomba de combustível. Ainda assim, os fabricantes insistem: a troca pode danificar o automóvel, e a economia no curto prazo representa perdas futuras.
Se os bicombustíveis de fábrica são novidade, a conversão não é. "Um ano antes da Volks, eu já adaptava os carros", afirma João Carlos Carvalho, dono da Chipbrás, oficina de Maringá (PR).

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