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Mera coincidência
No Salão de
Xangai, o ditado
chinês "Criar
é copiar
melhorando"
explica as
centenas de
"clones" de
de carros de
todo o mundo
FABIANO SEVERO
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI (CHINA)
Há um ditado chinês que diz:
"Criar é copiar melhorando".
Isso explica quase tudo numa
visita aos 11 pavilhões do Salão
de Xangai, na China. Até a próxima terça-feira, a mostra chinesa amontoa centenas de cópias de carros de todo o mundo.
Nenhuma, porém, tão escancarada como o Geely GE, uma
espécie de Phantom genérico.
Os ingleses Charles Rolls e Fredrick Royce devem estar se remoendo de raiva nos túmulos.
Será que, por isso, na coletiva
de imprensa, anunciaram o
nome Ghost (fantasma) para o
novo Rolls-Royce 200 EX?
"Isso é da sua imaginação.
O Geely GE em nada lembra o
tal carro inglês", disse à Folha,
com um sorrisinho de canto de
boca, Anderson Sui, diretor de
marketing do grupo Geely.
O GE, segundo Sui, não será
lançado. É apenas um "estudo
de estilo com dez desenhos para projetar o próximo carro de
luxo da Geely". Enquanto isso,
o diretor aponta para algumas
singularidades, como a poltrona reclinável individual atrás e
luzes no teto imitando estrelas.
A seis galpões dali, outro caso explícito. Um Dongfeng
Meng Shi travestido de Hummer H1. Com direito a pintura
camuflada e tudo. "Ele lembra
o Hummer, sim, mas não há como fugir muito desse design",
admite um funcionário da marca, que não quis se identificar.
Segundo ele, o carro só é destinado ao uso militar, e a empresa não foi processada pela
General Motors, dona da Hummer, pela "mera coincidência".
smart
Entre tantos "déjà vu", um
desavisado vê um Haima Me de
longe e até pensa se tratar de
um smart fortwo "tunado".
Mas, quando chega perto, considera a hipótese de ser um
Mazda, tamanha semelhança
no logotipo arredondado.
Quando é assim, há chance
de a marca original ter participação no capital da empresa
chinesa. E tem. A japonesa cede
a outros Haima motores, transmissões, lanterna, farol de
Mazda. E o Me? Bem, sem nada
de Mazda, é cópia do smart
mesmo, sem tirar nem por.
Tal qual um Byd F3, feito todinho nos moldes do Corolla
antigo, ainda em linha pela
FAW Toyota da China.
É tão assustador quanto o
jipe da BAW (Beijing Automobile Works). Só o farol -e o
escrito em mandarim na traseira, é claro- lança o benefício
da dúvida sobre uma legítima
Cherokee Laredo.
E são essas pequenas coisinhas que protegem os falsificadores. "Na lei de propriedade
industrial, há um capítulo que
fala sobre o "direito de distintividade". E bastam para legitimar uma cópia", explica à Folha NM Klaus Maier, presidente chinês da Mercedes-Benz,
uma das empresas mais plagiadas do mundo.
Ou você não lembra daquele
Monza-Mercedes 190E dos
anos 80? Era uma transformação à brasileira com requintes
de imitação chinesa. A contar
pela criatividade, teria feito sucesso no primeiro Salão de
Xangai, em 1985.
O jornalista viajou a convite da Chery
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