São Paulo, domingo, 26 de abril de 2009

Próximo Texto | Índice

Mera coincidência

No Salão de Xangai, o ditado chinês "Criar é copiar melhorando" explica as centenas de "clones" de de carros de todo o mundo

FABIANO SEVERO
ENVIADO ESPECIAL A XANGAI (CHINA)

Há um ditado chinês que diz: "Criar é copiar melhorando". Isso explica quase tudo numa visita aos 11 pavilhões do Salão de Xangai, na China. Até a próxima terça-feira, a mostra chinesa amontoa centenas de cópias de carros de todo o mundo.
Nenhuma, porém, tão escancarada como o Geely GE, uma espécie de Phantom genérico. Os ingleses Charles Rolls e Fredrick Royce devem estar se remoendo de raiva nos túmulos.
Será que, por isso, na coletiva de imprensa, anunciaram o nome Ghost (fantasma) para o novo Rolls-Royce 200 EX?
"Isso é da sua imaginação. O Geely GE em nada lembra o tal carro inglês", disse à Folha, com um sorrisinho de canto de boca, Anderson Sui, diretor de marketing do grupo Geely.
O GE, segundo Sui, não será lançado. É apenas um "estudo de estilo com dez desenhos para projetar o próximo carro de luxo da Geely". Enquanto isso, o diretor aponta para algumas singularidades, como a poltrona reclinável individual atrás e luzes no teto imitando estrelas.
A seis galpões dali, outro caso explícito. Um Dongfeng Meng Shi travestido de Hummer H1. Com direito a pintura camuflada e tudo. "Ele lembra o Hummer, sim, mas não há como fugir muito desse design", admite um funcionário da marca, que não quis se identificar.
Segundo ele, o carro só é destinado ao uso militar, e a empresa não foi processada pela General Motors, dona da Hummer, pela "mera coincidência".

smart
Entre tantos "déjà vu", um desavisado vê um Haima Me de longe e até pensa se tratar de um smart fortwo "tunado". Mas, quando chega perto, considera a hipótese de ser um Mazda, tamanha semelhança no logotipo arredondado.
Quando é assim, há chance de a marca original ter participação no capital da empresa chinesa. E tem. A japonesa cede a outros Haima motores, transmissões, lanterna, farol de Mazda. E o Me? Bem, sem nada de Mazda, é cópia do smart mesmo, sem tirar nem por.
Tal qual um Byd F3, feito todinho nos moldes do Corolla antigo, ainda em linha pela FAW Toyota da China.
É tão assustador quanto o jipe da BAW (Beijing Automobile Works). Só o farol -e o escrito em mandarim na traseira, é claro- lança o benefício da dúvida sobre uma legítima Cherokee Laredo.
E são essas pequenas coisinhas que protegem os falsificadores. "Na lei de propriedade industrial, há um capítulo que fala sobre o "direito de distintividade". E bastam para legitimar uma cópia", explica à Folha NM Klaus Maier, presidente chinês da Mercedes-Benz, uma das empresas mais plagiadas do mundo.
Ou você não lembra daquele Monza-Mercedes 190E dos anos 80? Era uma transformação à brasileira com requintes de imitação chinesa. A contar pela criatividade, teria feito sucesso no primeiro Salão de Xangai, em 1985.

O jornalista viajou a convite da Chery


Próximo Texto: Governo incentivou a cópia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.