São Paulo, domingo, 26 de maio de 2002

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Estudiosos do assunto e cúpula da indústria se dividem sobre os prós e contras de manter "populares" nas linhas

"Mil" só não desperta indiferença

Raphael Falavigna/Folha Imagem
Para a empresária Vera Atala, 42, "popular" não precisa ser "pé-de-boi". Dona de um Chevrolet Corsa Sedan, fez questão de opcionais como ar-condicionado, direção hidráulica e bancos de couro. "Não abro mão do conforto."


DA REDAÇÃO E

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"Mil", 1.0, "popular", básico, "pé-de-boi", de 1.000 cm3 de cilindrada... O número de formas de se referir a essa categoria só não é maior do que o de argumentos prós e contras sua continuidade.
Eles vêm tanto de estudiosos professores e consultores quanto da cúpula da indústria automobilística nacional. "É importante lembrar que carro 1.0 é como jabuticaba, só existe no Brasil", afirma José Carlos Pinheiro Neto, vice-presidente da General Motors.
"Com a mudança do IPI [Imposto sobre Produtos Industrializados", o consumidor terá acesso a carros maiores e mais possantes. Isso, é claro, alterará o mix de vendas. O 1.0, no entanto, continuará ocupando posição importante no segmento de entrada, mas deverá retornar a sua verdadeira origem, isto é, ser um veículo básico."
Pinheiro Neto diz que a GM defende "a redução do imposto e não o aumento para o chamado carro "popular'". A proposta da empresa é manter ou reduzir a alíquota de 10% para o carro 1.0, conservar os atuais 25% para os luxuosos e reduzir de 25% para 15% a incidente sobre os médios.
Para ele, na atual estrutura, o país está condenado a ser um produtor de carros pequenos. "É preciso mudar essa situação. Podemos concentrar esforços e investimentos em desenvolver motores adequados à exportação."
Sua opinião é compartilhada pelo o presidente da Volkswagen, Herbert Demel: "Como o grande mercado global não compra motores 1.0, não tenho dúvida de que boa parte do investimento da Volkswagen realizado nesses motores poderia ser direcionado a outros produtos e gerar resultados melhores ao país".
"Os carros "populares" estão presos ao volume doméstico. Com o mercado limitado, o investimento é amortizado num tempo maior, o que impede as fábricas de desenvolver mais produtos num intervalo mais curto, diz Ricardo Durazzo, consultor da área automobilística da A.T. Kearney.

"Não é baratinho"
"Na minha opinião, o "popular" não traz benefício. Não é baratinho, tem pouca potência e gasta tanto quanto um carro de maior cilindrada", afirma Ricardo Bock, 48, coordenador do curso de mecânica automobilística da FEI (Faculdade de Engenharia Industrial), de São Bernardo do Campo (Grande São Paulo).
No lado dos que defendem os "populares", está Lélio Ramos, diretor comercial da Fiat. "Não acreditamos na hipótese de um IPI unificado. O 1.0 representou um importante marco por aumentar a base de consumidores."
Para Ramos, "nessa faixa de preço [cerca de R$ 15 mil", qualquer variação pode significar a exclusão de parte dos consumidores". Segundo ele, caso o IPI seja unificado em valores superiores aos atuais, haveria essa exclusão.
Ele não vê a mesma limitação para a exportação. "Dispomos de uma moderna gama de motores de pequena cilindrada. Dessa família é produzida, ainda, uma quarta variação que é o 1.3 8V especialmente para a exportação."
Outro defensor dos "mil" é o presidente da Ford, Antonio Maciel Neto. Para ele, esse tipo de veículo "tem um futuro brilhante no país, pois as montadoras perceberam que a plataforma mais importante hoje é a de "populares'".
"Eles criaram um nicho de mercado. Mesmo não sendo exportado, mas com espaço em países emergentes, não concorre com os importados", opina Claudemir Galvani, professor de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo).
Para ele, uma possível unificação do IPI desestimularia o mercado. "O preço aumenta, e o número de consumidores cai."



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