São Paulo, domingo, 28 de janeiro de 2007

Próximo Texto | Índice

Nervos à flor da pele

Bruno Miranda/Folha Imagem
Presa no trânsito, Sabrina Prado morde um lápis

LUCIENE ANTUNES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A cratera do metrô ajudou São Paulo a registrar recordes de congestionamento em janeiro. Seus reflexos e a volta às aulas devem fazer o paulistano passar ainda mais tempo dentro do carro. Enquanto a reação da maioria é o desespero, alguns driblam o estresse.
"Vou me estressar por quê? Isso só vai trazer mais rugas, então vou dar risada e cuidar da minha beleza", diz a analista de RH Regina Dias de Moura, 32.
As risadas, ou melhor, gargalhadas, não são de nervoso, mas um dos exercícios de ginástica facial que Moura pratica quando se vê obrigada a ficar horas dentro de seu carro.
Há quem considere o tráfego lento uma bênção e até encontre discípulos. "Nosso trânsito é um dos melhores do mundo. Ele é tão devagar que permite fazer alongamentos e exercícios de relaxamento", analisa Nuno Cobra, 68, ex-preparador físico de Ayrton Senna.
O método que o treinador aplica a atletas e empresários inclui uma mudança de atitude em relação ao trânsito. "Parado, você tem oportunidade de pensar seriamente na vida e afastar as preocupações."
Longe desse estágio de consciência, a designer Sabrina Prado, 26, considera poucas coisas tão enlouquecedoras quanto o trânsito. Num dos dias em que levou uma hora e meia para atravessar a avenida Doutor Arnaldo (zona oeste), descobriu uma técnica inusitada antiestresse: morder um lápis.

Sem som
"Uma hora aquilo ia acabar: ou o lápis ou a avenida", brinca. Com ódio da situação e sob chuva, encostou o carro, ligou o pisca-alerta e entrou no único estabelecimento aberto por perto. Era uma sex shop. "Até ganhei desconto numas meias."
No seu trajeto diário entre a Barra Funda (zona oeste) e a Consolação (centro), Prado não conta com um dos aliados mais usados por motoristas atormentados: o rádio. O seu foi furtado meses atrás.
O analista de suporte Boris Bissolotti Junior, 31, não suportaria o caminho da Freguesia do Ó (zona norte) a Pinheiros (zona oeste) sem música.
Baterista de uma banda de rock, ignora a situação irritante cantando e simulando tocar o instrumento. "Quando me conformo que não tenho o que fazer ou para onde sair, ligo o som bem alto e ouço muito rock. De Velhas Virgens a Queen, de Pitty a Chuck Berry", conta.
Chamando a atenção dos motoristas ao redor, o roqueiro já fez amigos e até conheceu uma namorada graças ao clássico "Hotel California" na marginal parada às vésperas de um Carnaval. "De repente estava do lado de fora, cantando e dançando com a garota do carro ao lado. Na praia, coincidentemente nos encontramos e curtimos um romance que subiu a serra e durou oito meses."


Próximo Texto: Preparo físico reduz desconforto
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.