São Paulo, domingo, 28 de março de 2004

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MERCADO

Situação econômica e poder aquisitivo dos brasileiros ampliam a distância em relação ao que é produzido na Europa

Crise engata a ré nos modelos nacionais

LUÍS PEREZ
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Depois de terem sido chamados de carroça, os veículos feitos no Brasil passaram por um banho de concorrência com a abertura de mercado nos anos 90 e diminuíram a distância que os separava dos modelos do Primeiro Mundo.
Mas, se a economia e o poder aquisitivo do brasileiro não crescerem, teme-se que vários modelos -e tecnologias- demorem ou nem cheguem ao país. E alguns descompassos mostram que esse processo de novo distanciamento já está em marcha.
O Volkswagen Golf é um dos maiores motivos de dúvida para o Brasil. Lançada no fim do ano passado, na Europa, a quinta geração do modelo está longe de figurar na linha de montagem de São José dos Pinhais (PR).
Em nota divulgada à Folha, o departamento de imprensa da Volkswagen do Brasil apresenta seu argumento: "Podemos apenas afirmar que, hoje, a produção do Golf Geração 5 é absolutamente incompatível com a realidade do mercado local e da economia nacional, pois implicaria investimentos que tornariam o preço final do produto inacessível para o bolso do consumidor".

Sem previsão
Célebre nos anos 90 por lançar modelos atualizados e protagonista de um dos melhores exemplos do potencial brasileiro em alguns momentos, com a minivan Meriva, a General Motors do Brasil também está penando para rejuvenescer suas linhas.
O Vectra, renovado na Europa há dois anos, não tem previsão de chegada ao Brasil. Segundo a Folha apurou, porém, o renovado Astra -outro dos atrasados- deve ser lançado aqui no primeiro trimestre de 2005.
Oficialmente, a GM declara, em nota: "Não há planos de termos o novo Astra, da Opel, no país. No entanto a GM do Brasil continuará trabalhando no sentido de modernizar sua linha e manter sua posição de liderança no segmento". Declarar abertamente que o futuro modelo virá pode prejudicar as vendas do atual.
A empresa traz bons exemplos de produtos nacionais modernos. "Celta e Montana foram 100% desenvolvidos pela GM do Brasil, atendendo aos mercados interno e externo. No caso do Omega, trata-se de um veículo importado da Holden (GM Austrália) com projeto adequado às condições de nosso mercado", afirma Cristiane Sanches, gerente de marcas da montadora.

Alteração completa
A Renault Scénic, assim como o Mégane, já mudou completamente na Europa, seguindo a linha de design arrojado inaugurada com o sedã de luxo Vel Satis. A Renault do Brasil oficialmente afirma que não se pronuncia sobre lançamentos de carros.
Outro exemplo é o Audi A3. Acaba de perder a versão duas portas no Brasil. Na Europa, foi renovado, ganhando a feição de seus irmãos maiores, como o sedã A4. A empresa não revela se vão acontecer alterações. Tudo o que diz é que o carro continuará sendo fabricado em São José dos Pinhais com a carroceria anterior pelo menos até 2005.
Na Nissan, a picape Frontier e o utilitário esportivo Pathfinder dão mostras de superação. Embora nos catálogos mundiais de 2004 ainda figurem como "up-to-date" em relação aos modelos que rodam no Brasil, suas novas versões foram apresentadas há dois meses, no Salão de Detroit.
A picape ganhou um visual mais robusto, e o jipão, uma terceira coluna de bancos. A montadora afirma que não estão previstas mudanças por aqui.

Saudade
O último arroubo de entrosamento com o que há de melhor na Europa foi há dois anos, com o lançamento de modelos como Chevrolet Meriva (antes mesmo de chegar às lojas da Europa), Volkswagen Polo e novo Ford Fiesta (disponíveis apenas meio ano após sua apresentação no Salão de Frankfurt de 2001).
De lá pra cá, as empresas estão tendo de se virar para não amargar "gerações perdidas".


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