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CAPITÃES DA INDÚSTRIA/THOMAS BESSON
Presidente da Nissan confirma produção de nova Frontier e de dois carros de passeio e o fim do X-Terra
Nissan terá 3 carros novos feitos no PR em 2009
Em visita à terra natal para as festas de fim de ano, o
brasileiro Carlos Ghosn, presidente mundial da Renault e da Nissan, comemora o crescimento da francesa por aqui, mas frisa que a japonesa tem prejuízo.
Aliás, a operação local é a única que não dá lucro em
todo o mundo. "Para a aliança Renault-Nissan, o Brasil é um mercado estratégico para os próximos anos.
Teremos muitos produtos novos, estudados para o
mercado brasileiro."
(JOSÉ AUGUSTO AMORIM)
Reverter a situação de uma
marca totalmente desconhecida no país é a missão do franco-americano Thomas Besson, 35.
Mas não é só ser o presidente
mais jovem de uma montadora
com fábrica no Brasil que chama a atenção em seu currículo.
Ele parece ser mesmo um
menino prodígio: mestre em
ciências pelo MIT (Instituto de
Tecnologia de Massachusetts),
foi contratado, em 2003, pela
Nissan -dona de 0,78% do
mercado. Em abril de 2006, assumiu a responsabilidade dos
mercados brasileiro, argentino,
paraguaio e uruguaio.
Aqui, conseguiu elevar as
vendas de 7.000 carros em
2006 para 11,5 mil em 2007. Para 2009, estima 40 mil unidades. Besson conversou com a
Folha, na segunda entrevista
da quinzenal série "Capitães da
Indústria", após um encontro
de Ghosn com a imprensa.
FOLHA - Carlos Ghosn não parece
feliz com a Nissan no Brasil. O que o
sr. fará para mudar a situação?
THOMAS BESSON - Ninguém está
feliz com a Nissan no Brasil. A
base para o lucro é o plano Shift
Mercosul, que prevê o lançamento de seis produtos até o
fim de 2009, com investimento
de US$ 150 milhões. Também
vamos aumentar a rede de concessionários, dos atuais 65 para
120. O principal é aumentar as
vendas para cobrir investimentos e custos.
FOLHA - Quando virá um carro novo nacional?
BESSON - A primeira parte do
plano Shift Mercosul era o lançamento de um carro no ano
passado, o Murano, e de três
neste ano: o Sentra, o Tiida e a
nova Frontier. Ficamos muito
felizes com o resultado, a recepção foi muito positiva.
FOLHA - E o carro novo?
BESSON - A segunda fase são
dois carros de passeio que serão
feitos aqui até o fim de 2009.
FOLHA - Serão desenvolvidos aqui?
A Nissan terá centros de design e de
engenharia, como a Renault?
BESSON - No futuro próximo,
não teremos centro de design.
Nosso time de engenheiros é
muito próximo dos do Japão e
dos EUA. Localização não é o
ponto. Como o centro de design
é o mesmo, temos um nos EUA,
outro na Grã-Bretanha, outro
no Japão. Eles trabalham juntos. A longo prazo, a América do
Sul pode ter um centro de design, o Brasil pode ser uma opção, mas não há data definida.
FOLHA - Um deles é a Frontier?
BESSON - Não, a nova Frontier é
um terceiro produto. Até março de 2009, fim do ano fiscal de
2008, ela será feita aqui. No ano
fiscal de 2009, introduziremos
dois carros de passeio.
FOLHA - É verdade que o X-Terra
não será mais produzido aqui?
BESSON - O X-Terra atingirá o
fim de seu ciclo de vida durante
2008 e será substituído por um
veículo importado ligeiramente diferente, que anunciaremos
no momento oportuno.
FOLHA - Por que o Tiida Sedan é
vendido só na Argentina?
BESSON - No Brasil, lançamos o
Sentra. Para evitar uma possível confusão do consumidor,
era melhor ter um único sedã.
FOLHA - Há alguma chance de o
Qashqai ser importado?
BESSON - O Qashqai é feito na
Grã-Bretanha, e a libra é extremamente forte. Adoraria trazê-lo, mas, com o câmbio, é difícil.
FOLHA - A Nissan, nos EUA, vai produzir uma picape para a Suzuki. No
ano passado, um jornal japonês afirmou que isso ocorreria também no
Paraná. Era apenas especulação?
BESSON - Não vamos fazer Suzuki aqui. A Nissan sempre
procura parcerias, além da
aliança com a Renault. Ghosn
se referiu à parceria com a
Chrysler [para fornecimento
de carros de uma para outra], é
isso que ocorrerá globalmente.
FOLHA - Foi um erro focar inicialmente em 4x4 no Brasil?
BESSON - Eu não acho, porque o
segmento 4x4 é grande aqui.
Além disso, é normal entrar
num país usando seus pontos
fortes, e a Nissan é conhecida
por seus 4x4. Apesar da nossa
pequena produção em cinco
anos, o reconhecimento da Nissan é forte no segmento 4x4.
FOLHA - Quando a Nissan trouxe o
350Z para o Brasil, queria mostrar
que não tinha só 4x4. O esportivo
GT-R tem alguma chance de vir?
BESSON - A Nissan, para extrapolar a imagem de 4x4, tem
produtos "construtores de
marca", que trazem prestígio. O
GT-R é a essência da habilidade
da engenharia da Nissan. Ainda
precisamos estudar se vai ser
lançado no Brasil, pois o mercado é muito, muito pequeno. No
momento, o foco é o lucro -e
asseguro que ele voltará antes
do fim de 2009. Quando isso
ocorrer, decidiremos se o GT-R
será ou não importado.
FOLHA - A fase de importação de
carros terminou. Não haverá lançamentos em 2008?
BESSON - O Tiida e o Sentra
continuarão parte de nossa estratégia, e a Nissan continuará
a ter uma fábrica no Brasil. O
que você verá agora é a renovação dos produtos feitos aqui.
Nosso foco é preparar a fábrica
para os novos carros e trabalhar com os modelos lançados
neste ano. Provavelmente não
teremos lançamentos em 2008.
FOLHA - Na hora de comprar um
carro, o brasileiro tem medo de escolher um Nissan?
BESSON - Claro. A Nissan precisa construir conhecimento e
confiança. Quando alguém gasta uma boa proporção de suas
economias para comprar um
carro, a marca é levada em consideração. Como uma marca japonesa, já temos um pouco de
confiança, mas precisamos ser
muito mais conhecidos.
FOLHA - Ghosn disse que 48% dos
brasileiros sabem que a Renault produz no Brasil. E em relação à Nissan?
BESSON - A estatística que temos, de uma pesquisa do começo deste ano, é que, se você
pergunta a alguém que não tem
um Nissan qual a primeira
montadora que vem à sua mente, a Nissan nunca aparece.
FOLHA - O Shift Mercosul prevê a
venda de 40 mil carros em 2009. O
sr. acha que a Nissan conseguirá?
BESSON - Se não achasse, não
teria anunciado o plano. Sem
dúvida, é um desafio.
FOLHA - O sr. é o presidente mais
novo de uma montadora no Brasil.
Como se sente?
BESSON - Não sinto nada. Tudo
o que discutimos não é fruto
das idéias de uma única pessoa,
é o resultado do trabalho de
uma equipe. Isso pode soar um
chavão, mas nada acontece sem
pessoas. Sou jovem, por isso me
cerco de pessoas mais experientes. Dividimos idéias entre
os mais novos e os mais velhos
para tomar decisões certas.
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