São Paulo, domingo, 30 de dezembro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CAPITÃES DA INDÚSTRIA/THOMAS BESSON

Presidente da Nissan confirma produção de nova Frontier e de dois carros de passeio e o fim do X-Terra

Nissan terá 3 carros novos feitos no PR em 2009

Em visita à terra natal para as festas de fim de ano, o brasileiro Carlos Ghosn, presidente mundial da Renault e da Nissan, comemora o crescimento da francesa por aqui, mas frisa que a japonesa tem prejuízo. Aliás, a operação local é a única que não dá lucro em todo o mundo. "Para a aliança Renault-Nissan, o Brasil é um mercado estratégico para os próximos anos. Teremos muitos produtos novos, estudados para o mercado brasileiro." (JOSÉ AUGUSTO AMORIM)

Reverter a situação de uma marca totalmente desconhecida no país é a missão do franco-americano Thomas Besson, 35. Mas não é só ser o presidente mais jovem de uma montadora com fábrica no Brasil que chama a atenção em seu currículo.
Ele parece ser mesmo um menino prodígio: mestre em ciências pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), foi contratado, em 2003, pela Nissan -dona de 0,78% do mercado. Em abril de 2006, assumiu a responsabilidade dos mercados brasileiro, argentino, paraguaio e uruguaio.
Aqui, conseguiu elevar as vendas de 7.000 carros em 2006 para 11,5 mil em 2007. Para 2009, estima 40 mil unidades. Besson conversou com a Folha, na segunda entrevista da quinzenal série "Capitães da Indústria", após um encontro de Ghosn com a imprensa.

 

FOLHA - Carlos Ghosn não parece feliz com a Nissan no Brasil. O que o sr. fará para mudar a situação?
THOMAS BESSON
- Ninguém está feliz com a Nissan no Brasil. A base para o lucro é o plano Shift Mercosul, que prevê o lançamento de seis produtos até o fim de 2009, com investimento de US$ 150 milhões. Também vamos aumentar a rede de concessionários, dos atuais 65 para 120. O principal é aumentar as vendas para cobrir investimentos e custos.

FOLHA - Quando virá um carro novo nacional?
BESSON
- A primeira parte do plano Shift Mercosul era o lançamento de um carro no ano passado, o Murano, e de três neste ano: o Sentra, o Tiida e a nova Frontier. Ficamos muito felizes com o resultado, a recepção foi muito positiva.

FOLHA - E o carro novo?
BESSON
- A segunda fase são dois carros de passeio que serão feitos aqui até o fim de 2009.

FOLHA - Serão desenvolvidos aqui? A Nissan terá centros de design e de engenharia, como a Renault?
BESSON
- No futuro próximo, não teremos centro de design. Nosso time de engenheiros é muito próximo dos do Japão e dos EUA. Localização não é o ponto. Como o centro de design é o mesmo, temos um nos EUA, outro na Grã-Bretanha, outro no Japão. Eles trabalham juntos. A longo prazo, a América do Sul pode ter um centro de design, o Brasil pode ser uma opção, mas não há data definida.

FOLHA - Um deles é a Frontier?
BESSON
- Não, a nova Frontier é um terceiro produto. Até março de 2009, fim do ano fiscal de 2008, ela será feita aqui. No ano fiscal de 2009, introduziremos dois carros de passeio.

FOLHA - É verdade que o X-Terra não será mais produzido aqui?
BESSON
- O X-Terra atingirá o fim de seu ciclo de vida durante 2008 e será substituído por um veículo importado ligeiramente diferente, que anunciaremos no momento oportuno.

FOLHA - Por que o Tiida Sedan é vendido só na Argentina?
BESSON
- No Brasil, lançamos o Sentra. Para evitar uma possível confusão do consumidor, era melhor ter um único sedã.

FOLHA - Há alguma chance de o Qashqai ser importado?
BESSON
- O Qashqai é feito na Grã-Bretanha, e a libra é extremamente forte. Adoraria trazê-lo, mas, com o câmbio, é difícil.

FOLHA - A Nissan, nos EUA, vai produzir uma picape para a Suzuki. No ano passado, um jornal japonês afirmou que isso ocorreria também no Paraná. Era apenas especulação?
BESSON
- Não vamos fazer Suzuki aqui. A Nissan sempre procura parcerias, além da aliança com a Renault. Ghosn se referiu à parceria com a Chrysler [para fornecimento de carros de uma para outra], é isso que ocorrerá globalmente.

FOLHA - Foi um erro focar inicialmente em 4x4 no Brasil?
BESSON
- Eu não acho, porque o segmento 4x4 é grande aqui. Além disso, é normal entrar num país usando seus pontos fortes, e a Nissan é conhecida por seus 4x4. Apesar da nossa pequena produção em cinco anos, o reconhecimento da Nissan é forte no segmento 4x4.

FOLHA - Quando a Nissan trouxe o 350Z para o Brasil, queria mostrar que não tinha só 4x4. O esportivo GT-R tem alguma chance de vir?
BESSON
- A Nissan, para extrapolar a imagem de 4x4, tem produtos "construtores de marca", que trazem prestígio. O GT-R é a essência da habilidade da engenharia da Nissan. Ainda precisamos estudar se vai ser lançado no Brasil, pois o mercado é muito, muito pequeno. No momento, o foco é o lucro -e asseguro que ele voltará antes do fim de 2009. Quando isso ocorrer, decidiremos se o GT-R será ou não importado.

FOLHA - A fase de importação de carros terminou. Não haverá lançamentos em 2008?
BESSON
- O Tiida e o Sentra continuarão parte de nossa estratégia, e a Nissan continuará a ter uma fábrica no Brasil. O que você verá agora é a renovação dos produtos feitos aqui. Nosso foco é preparar a fábrica para os novos carros e trabalhar com os modelos lançados neste ano. Provavelmente não teremos lançamentos em 2008.

FOLHA - Na hora de comprar um carro, o brasileiro tem medo de escolher um Nissan?
BESSON
- Claro. A Nissan precisa construir conhecimento e confiança. Quando alguém gasta uma boa proporção de suas economias para comprar um carro, a marca é levada em consideração. Como uma marca japonesa, já temos um pouco de confiança, mas precisamos ser muito mais conhecidos.

FOLHA - Ghosn disse que 48% dos brasileiros sabem que a Renault produz no Brasil. E em relação à Nissan?
BESSON
- A estatística que temos, de uma pesquisa do começo deste ano, é que, se você pergunta a alguém que não tem um Nissan qual a primeira montadora que vem à sua mente, a Nissan nunca aparece.

FOLHA - O Shift Mercosul prevê a venda de 40 mil carros em 2009. O sr. acha que a Nissan conseguirá?
BESSON
- Se não achasse, não teria anunciado o plano. Sem dúvida, é um desafio.

FOLHA - O sr. é o presidente mais novo de uma montadora no Brasil. Como se sente?
BESSON
- Não sinto nada. Tudo o que discutimos não é fruto das idéias de uma única pessoa, é o resultado do trabalho de uma equipe. Isso pode soar um chavão, mas nada acontece sem pessoas. Sou jovem, por isso me cerco de pessoas mais experientes. Dividimos idéias entre os mais novos e os mais velhos para tomar decisões certas.


Texto Anterior: Honda Civic Si
Próximo Texto: Teste folha-mauá: Incógnito, Kyron é mais barato que SW4
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.