Rede "verde" faz jus ao apelido pouco lisonjeiro

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
O legado da cultura hippie dos anos 60 se desdobrou em tendências importantes, que valorizam a consciência ambiental, as medicinas alternativas e a alimentação orgânica. Mas também está vivo no artesanato precário, nas bijuterias toscas e no incenso ruim que ambulantes desgrenhados tentam nos empurrar em praias e estradas e na trivial sopa de cará/broto de bambu de nove entre dez restaurantes naturais.
Por má vontade, muita gente bota uns e outros no mesmo saco, e passa a chamar todos, de forma não muito lisonjeira, de "natureba". O termo está carregado de preconceito, mas a confusão tem lá suas razões de ser.
A julgar pela oferta da rede de produtos naturais Mundo Verde, por exemplo, quem se interessa por grãos pouco difundidos aqui, como quinoa real e arroz preto, também deve curtir santinho de pano com cara de boneca, e está pronto para ser engambelado por um óleo que promete "inundar o ambiente de amor e harmonia."
Aberta há pouco, a filial de Pinheiros da rede poderia ser um bem-vindo complemento à cena animada da praça Omaguás, que lojas como Fnac, Benedixt e 62 transformaram em reduto de compras espertas. Em vez do mundo ecológico e futurista que o nome promete, porém, a casa vende uma seleção que pouco se distingue da que é oferecida, há anos, por entrepostos e farmácias como Alternativa e Philippe de Lyon.
O engraçado é que, além dos acertos das antecessoras, repete seus erros. Como elas, oferece ingredientes orgânicos de qualidade e boas opções para quem sofre de diabetes e intolerâncias alimentares. Como elas, sofre de falta de inspiração para criar ambientes, que parecem farmácias, e no "mix" de produtos, que começa no saudável, resvala no esotérico e descamba para o duvidoso, como nos shakes que prometem substituir legumes na alimentação das crianças.
A oferta poderia se beneficiar de uma leitura mais contemporânea da idéia de mundo verde; mas, na falta dela, uma seleção mais rigorosa de artesanato, velas e incensos já ajudaria. Até lá, restam os (ótimos) produtos de limpeza à base de citronela e, para testar, o café orgânico, que abre esta semana.