São Paulo, sábado, 01 de novembro de 2008

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Fidelização ou jogo de cena?


Boicote as empresas que especularem com estoques e preços sob a desculpa de que as bolsas estão desabando

LAURA ESTÁ DE OLHO nos preços. Ela pode ser consumista, mas boba, com certeza, não é.
Na verdade, Laura está atenta, principalmente, àquelas empresas que fazem juras de amor ao consumidor quando o céu é de brigadeiro.
Que conjugam o verbo fidelizar o tempo todo. Laura acha que relacionamentos têm de sobreviver principalmente aos momentos difíceis.
Oferecer de tudo para atrair o consumidor quando a economia cresce é fácil. Ela quer saber quais empresas continuarão a investir, mesmo que a crise de 2009 seja mais do que um resfriado, para usar a terminologia econômico-broncopulmonar do governo.
Agora é a hora de saber em quem confiar. Certamente, não nos bancos que sonegam créditos, mesmo que os depósitos compulsórios sejam reduzidos, ajudando a afundar a economia brasileira.
Podemos anotar, ainda, o nome das empresas que especularem com estoques e preços de produtos sob a desculpa de que as bolsas estão desabando.
Laura não vai perdoar aqueles que apostaram no real contra o dólar, perderam dinheiro e tentam recuperar as perdas aumentando os preços dos produtos e serviços.
Afinal, o palavrão fidelizar vem de fiel. Que significa leal, incapaz de atraiçoar alguém.
A crise, tenha o porte que tiver, passará. Isso ocorreu com todas as desgraças econômicas, inclusive com a famosa crise de 1929, detonada pelo "crash" da Bolsa nos Estados Unidos.
Quando a economia voltar aos trilhos do crescimento, que tal dar adeus às empresas que tentarem se aproveitar das dificuldades financeiras de hoje? Como? Deixando de comprar seus produtos.
Com a licença de Laura, também sugiro que fiquemos com um pé atrás com as empresas que demitirem grandes contingentes de profissionais, mal a crise mostre suas garras. Já ganharam tanto nos últimos meses que deveriam ter gordura para queimar, antes de alimentar o círculo vicioso da recessão. Laura é um tanto radical, mas, neste caso, tenho que concordar com ela em gênero, número e grau.
Hoje, uma empresa é bem mais do que um empreendimento econômico que visa o lucro. É, além disso, uma organização que deve ser comprometida com a qualidade de vida de seus clientes, empregados, fornecedores etc.
Agora, veremos, também, se há responsabilidade social ou uma farsa marqueteira.
Os comerciantes, prestadores de serviço e industriais, portanto, que ponham as barbas de molho.
Fidelidade é como amizade. Uma vez que vai, não volta jamais.
Laura está atenta por que já enfrentou muitas crises. Embora sustente que era criancinha na época do Plano Collor. Sei que não é bem assim, mas não vou criar inimizade.
O importante é não esquecermos que consumo consciente não é somente evitar produtos que provoquem danos ambientais. E é mais do que não ser consumista. Também é tirar a máscara dos canastrões que, à luz das dificuldades, mostram quem são na realidade.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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