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CRÍTICA DE LOJA
[questão de gosto e opinião]
LADEIRA ACIMA, LADEIRA ABAIXO
Nem tudo são flores no bairro de alma hippie
TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Alternativo", originalmente, é o produto de um pensamento que tenta inventar um
jeito novo de fazer as coisas. Foi
só depois que o termo se colou
ao resgate do "simples" e do
"natural" para a vida diária dos
anos 90 e à tendência ao artesanal em roupas e objetos.
No comércio da Vila Madalena, o espírito original do alternativo vive. Foi lá que nasceram a Livraria da Vila, o ateliê
do designer Carlos Motta, as
marcenarias Trancoso e Baraúna; foi lá que Ronaldo Fraga,
um dos mais inventivos estilistas brasileiros, abriu sua loja
paulistana.
Para cada tentativa bem-sucedida de fazer moda e design
originais, ainda que em pequena escala, porém, o bairro abriga dez negócios que chegam
atraídos por sua fama "alternativa" e se dispõem a explorar o
delicado filão do artesanato
sem muita inspiração ou noção
de perigo.
O resultado aparente é uma
derrama de galinhas-d'angolas,
tapetes de fiapo colorido e caixas de fósforo decoradas. Mas o
mais perverso é que uma cena
que teria tudo para virar atração turística de apelo internacional fica com mais altos e baixos do que o relevo do bairro.
A depender da ladeira que
você subir, pode se ver na surpreendente Mundaréu, que
vende poucas, excelentes e exclusivas peças de artesanato
produzidas em trabalhos comunitários, e que integra uma
rede global chamada Preço
Justo. Lá, você encontra um
lindo castiçal de ferro reaproveitado, em forma de homenzinho, por R$ 22.
A poucas quadras, com um
nome parecido, fica a Recicla
Mundo, cuja oferta de artesanatos acende velas para deuses
e diabos mexicanos, marroquinos e mineiros, e onde uma bolsa de água quente com capa de
tricô, "reciclada" de seis invernos europeus atrás, custa R$
72, e um "kit" para plantar cebolinha, consistindo num balde
e sementes, R$ 61.
É preciso se safar dessas armadilhas para chegar ao melhor da Vila; coisas como os jogos de cama bordados da Panacéia, os pijamas infantis de coqueirinhos da Para Dormir, as
roupas fashion de bebê da Santa Paciência, as calcinhas de
malha listradas da Polly Magoo, as xícaras com asas do Estúdio Manus, a papelaria coordenada da Portfólio.
São exemplos de uma idéia
contemporânea de artesanal,
tendente ao casual/bem-humorado e de preço razoável.
Como a oferta maluca da Agá
Presentes e o refrigerante de
caju da Feira Moderna, essa é a
cara da Vila. Não-alternativos
podiam voltar para o seu Lar
Center.
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