São Paulo, sábado, 02 de fevereiro de 2008

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MARIA INÊS DOLCI
[Defesa do consumidor]

PASSAGENS AÉREAS RUMO AO CÉU



O duopólio da aviação civil brasileira saiu de 2007 com passagens mais caras, ao estilo do crime que compensa
NÃO SEI se vocês, caros leitores e leitoras, aproveitaram o Carnaval para viajar, ou se optaram pela folia. Se teimaram em viajar de avião, hão de sentir o bolso bem mais leve. Pois é, o duopólio da aviação civil brasileira Gol e TAM saiu de 2007, ano em que o caos aéreo foi intermitente, com passagens 29% mais caras, em média.
Nada mal, ao estilo do crime que compensa. Foram, no mínimo, sócias da bagunça e do desrespeito aos passageiros, atrasaram vôos, faltaram com princípios até de humanidade. E, como bônus por tanta eficiência, cobram bem mais caro dos seus consumidores.
Além disso, as companhias aéreas se lembraram de que a Justiça, aqui no Brasil, não só é cega como lerda. E quase já não fazem acordos nos juizados dos aeroportos. Sobra para os passageiros se queixarem ao bispo. E arrastarem, para todo o sempre, suas ações contra atrasos e cancelamentos de vôos, dentre outras malvadezas aéreas.
Parece chato tratar de um tema como este, enquanto o povo se diverte na festa mais importante do ano. Mas o momento para reclamar do descaso para com os cidadãos que se locomovem de avião por lazer, negócios ou outras situações é este mesmo. Afinal, na próxima quarta-feira, começará, de fato, 2008.
A tática de jogar as pendências para o Judiciário, aliás, não foi descoberta pelo duopólio da aviação. Até hoje, vale muito a pena para empresas que não se importam com suas reputações passar anos e anos nas múltiplas instâncias e chicanas disponíveis aos mais aquinhoados financeiramente. O consumidor, então, perde até quando ganha, porque muitas vezes nem está vivo para comemorar a vitória judicial.
Como resolver isso? Bem, há medidas que dependem do poder público, como a construção de um terceiro aeroporto em São Paulo, a ampliação de Cumbica e o trem-bala entre São Paulo e o aeroporto de Viracopos, em Campinas.
Há, contudo, algo que compete aos cidadãos, individualmente e organizados em associações diversas, inclusive as de defesa do consumidor. Temos que pressionar, em ano eleitoral, candidatos à eleição e à reeleição para que tornem a legislação mais rigorosa para as empresas aéreas que atuam no Brasil.
Apelo, também, aos juizes de cada cidade brasileira com um aeroporto, para que acelerem os julgamentos, dificultem as chicanas dos réus voadores e sejam extremamente rigorosos com quem brinca, sem fantasia, confete ou serpentina, com as vidas dos que voam pelos céus do país.
A impunidade não deve imperar em nenhuma área, especialmente naquelas em que a segurança, a manutenção, o respeito e a pontualidade são essenciais. Temos que mudar isso logo, pois cidadão tem direitos, ainda mais quando está a nove mil pés do chão.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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