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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]
FIDELIZAÇÃO SEM GERÚNDIO
Empresas confundem fidelidade com a "oferta" freqüente de produtos e serviços que não solicitamos
FIDELIZAÇÃO É UM dos mantras
favoritos dos especialistas em
relações com os consumidores. Candidata à velhice precoce pelo uso excessivo, como foi o caso de
"parceria", a palavra deveria se traduzir por um tratamento ético e respeitoso ao consumidor, que, encantado com os serviços e atenções adicionais à qualidade dos produtos e
serviços, seria conquistado, fidelizado, em uma determinada marca.
"Fiel" significa mais do que a torcida do Corinthians. Significa ser
leal, devotado e não contrariar a
confiança depositada. É um atributo
sério demais, decorrente de um relacionamento muito bom, construído ao longo do tempo.
Lamentavelmente, muitas empresas confundem fidelidade com a
"oferta" freqüente de produtos e
serviços que não solicitamos. Você é
bombardeado, diariamente, por telefonemas em que atendentes treinados para arrancar um "sim" insistem até acabar com sua paciência.
Quando você mais precisa ser
atendido com rapidez e cortesia, para solucionar um problema real, ouve uma chatíssima música de espera, a ligação cai e o transferem, depois, de um ramal para outro. Tudo
para que desista de cancelar um serviço, cobrar uma visita técnica ou
uma troca de equipamento.
O primeiro passo da fidelização,
portanto, deveria ser respeitar o
consumidor. Não vender gato por
lebre, não empurrar algo que ele não
deseje, nem infernizá-lo com ligações repletas de gerúndios -o maldito "eu vou estar oferecendo".
Nos dias de hoje, um profissional
como um gerente de banco tem, entre suas atribuições, que cumprir
metas de vendas. E isso significa
vender, vender, vender para seus
correntistas seguros, cartões e os títulos de capitalização, que capitalizam, sim, os bancos, mais do que já
ocorre normalmente.
Deixem-nos em paz, por favor! Diferenciem-se pela seriedade e entreguem o prometido. Destaquem-se
por ouvir o que temos a dizer sobre
produtos e serviços. Resolvam problemas, em vez de nos enrolar.
Cumpram as leis, sem buscar brechas jurídicas questionáveis para
sonegar direitos dos consumidores.
Parem com isso, já!
Isso vale para todos os agentes
econômicos, inclusive para cada um
de nós, em nossas atividades diárias.
Precisamos criar novas relações
de consumo. Como o pequeno restaurante caseiro que, com o prato
feito ou comercial, oferece três pasteizinhos como cortesia. Ou o hipermercado que tem pessoal suficiente
para empacotar suas compras, carregar seu carrinho e descarregá-las
no porta-malas do carro.
Parecem detalhes, mas fazem a diferença. Um amigo ficou surpreso
quando a loja de CDs importados
perguntou se ele preferiria cancelar
um dos dois itens que comprou, retido pela burocracia de importação,
ou aceitaria receber um e esperar
mais pelo outro. Ou a superloja de livros que procurou em toda a rede
uma determinada obra e a trouxe
para São Paulo, talvez sem lucro, somente para satisfazer um cliente.
Isso é fidelização, o resto é propaganda enganosa.
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
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