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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e opinião]
Nem sempre o que é natural é melhor
Marca de roupas orgânicas capricha mais no social
TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Se você tem irritação de
produto que requer uma bula
conceitual para ser apreciado,
melhor pular a Eden.
Cercada
por espelhos d'água com peixes, em plena Vila Madalena,
na zona oeste de São Paulo, a
loja oferece araras esparsas de
camisetas, vestidinhos, moletons e jeans cujo estilo calculadamente despretensioso de
cores poucas (branco, cinza,
verde-água) não chegam a
justificar os preços de grife
fashion.
Você até suspeita que o rapaz postado à sua espera tenha explicações a oferecer, e
que não haverá maneira de escapar delas. Só não pode suspeitar do grau de elaboração
do discurso.
À primeira chance, ele vai
contar que as roupas da marca
estão no centro de um projeto
social que envolve 400 famílias de agricultores no Paraná;
que elas são feitas de algodão
"98% orgânico", ou seja, cultivado sem agrotóxico "desde a
semente"; que 50% dos pesticidas consumidos no mundo
são usados em plantações de
algodão; e que um desses químicos, o agente laranja, foi
descoberto durante a Guerra
do Vietnã, quando era usado
pelo exército americano para
desfolhar as árvores e enxergar o inimigo com mais facilidade, lá embaixo.
Colhida por essa sessão involuntária de "Apocalypse
Now", você já está a ponto de
chorar. Mas, em que pese a solidariedade irrestrita às vítimas da crueldade do mundo
capitalista -das árvores aos
pequenos agricultores-, nada
muda o fato de o casaco canguru de algodão cinza da grife
ter o caimento de um colete
ortopédico, ainda que o toque
do tecido seja realmente mais
agradável do que a média.
Pelo preço módico de R$ 279,
ademais, eu iria correndo para uma cor viva, e linda, de alguma Tommy Hilfiger da vida, com toda a química -que
Deus me perdoe.
Com exceções discretas, caso das camisetas com estampas de argila, o que sobra em
correção ecológica falta naquilo que não pode faltar:
charme. Sem agrotóxicos,
mas sem graça, os vestidinhos
com capuz da marca dão saudade da Putumayo nova-iorquina, que, antes de virar selo
de "world music", vendia roupas de algodão cru com tingimentos e bordados inspirados
no México e na Índia. Naturais, mas abusadas.
ONDE ENCONTRAR
Eden
r. Harmonia, 271, Vila Madalena,
tel. (11) 3818-9500, São Paulo
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