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GÔNDOLA [conheça melhor tudo que chega aos supermercados]
‘ROUPA NOVA’ IRRITA CONSUMIDORES
Reclamações fazem Nescau voltar atrás e manter a opção da embalagem tradicional; pó Royal muda visual depois de 85 anos
DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os consumidores do achocolatado Nescau protestaram e a
fabricante teve que atender: a
lata cilíndrica, que havia sido
substituída por uma nova versão mais alta e espiralada, está
de volta aos supermercados.
Em setembro de 2007, com os
75 anos da marca no Brasil, foi
criada a nova embalagem. Mas
os protestos no SAC (Serviço de
Atendimento ao Consumidor)
foram tantos que, neste mês,
além de voltar atrás e relançar a
lata antiga, a Nestlé do Brasil
enviou cartas aos consumidores que reclamaram assegurando a volta da embalagem anterior ao mercado.
Agora, outra marca líder de
mercado decidiu correr o mesmo risco. O fermento em pó
Royal abandonou a embalagem
clássica de 85 anos, marcada
pela ilustração da lata dentro
da lata, e a substituiu por um
pote de plástico acinturado.
Na nova versão, o desenho
antigo permanece no rótulo,
ainda que a brincadeira visual
não faça mais sentido. Foram
mantidas também a cor e as receitas no verso, para, segundo a
fabricante, Kraft, deixar claro
que o produto ainda é o mesmo.
O objetivo da mudança é
"acompanhar a evolução das
consumidoras", de acordo com
a gerente de marketing do fermento, Luciana Pires, 36. O novo desenho foi feito para facilitar o manuseio, por meio do pote "anatômico" e da "exclusiva
tampa medidora", equivalente
a uma colher de sopa.
As mudanças em embalagens
clássicas acontecem, segundo o
coordenador do Núcleo de Embalagem da ESPM, Fabio Mestriner, para combater a concorrência de novos produtos. "Antigamente, a Royal estava sozinha na liderança. Agora, concorre até com marcas próprias
[de supermercados]", diz Mestriner. Como a forma é a característica mais marcante de uma
embalagem, as mudanças mais
radicais envolvem a criação de
novos desenhos. Várias empresas têm apostado no desenvolvimento de formas patenteadas
para dar "personalidade" aos
produtos. A "cinturinha" do pó
Royal tem se tornado tendência nas gôndolas, e aparece em
leite condensado, achocolatados e iogurtes.
Mas dá para mudar de maneira menos radical. Em 2006,
o amido de milho Maizena trocou as letras em estilo "velho
oeste" de sua caixa amarela por
um tipo mais leve. Alguns dos
índios desenhados na embalagem foram removidos, como o
"cacique" e outros sioux que
ajudavam na "colheita", para
deixar a ilustração mais clara,
segundo a Unilever. "Eles mudaram o logotipo mas mantiveram a "gestalt" da embalagem",
diz Mestriner. Isto é, as proporções entre logo, ilustrações e
caixa continuaram as mesmas.
A fabricante da Maizena diz
que era um "problema" mudar
a embalagem de 134 anos e que
se preocupou em deixar as alterações "quase imperceptíveis".
O desafio para as empresas é
conseguir se proteger da concorrência sem perder a identidade. Para isso, as novidades
são testadas antes de chegarem
à gôndola. Segundo a Kraft, isso
foi feito com sucesso com o pó
Royal porque os participantes
das pesquisas teriam aprovado
a praticidade da nova embalagem. O problema é que o consumidor pode não concordar,
como aconteceu com o Nescau.
"A mudança pode até ser positiva, mas sempre tem risco",
diz o professor da ESPM.
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