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BAGAGEM [compras mundo afora]
SUVENIR SEM ALÇA E SEM RODINHA
ELIANE TRINDADE
EDITORA DA REVISTA DA FOLHA
Trazer as cores quentes do
México em algum objeto de
decoração era o objetivo. A intenção virou um problema
quando o suvenir se converteu
em um trambolho de 60 cm
por 70 cm, com espelho no
centro. Não há bom senso que
sobreviva quando você se
apaixona por algo exposto numa simpática lojinha, bem no
último dia de viagem.
A Maria Bonita é uma das
dezenas de lojas de decoração
e bugigangas para casa que circundam a feira de San Ángel,
no bairro do mesmo nome,
uma espécie de Benedito Calixto da Cidade do México. Os
negócios rivalizam com as
barraquinhas que lotam as
calçadas, cheias das inevitáveis lembrancinhas produzidas em série.
Lá estão as bijuterias de prata, os carrinhos de madeira, os
vestidos de algodão e, claro, as
bolsas de plástico com o rosto
de Frida Kahlo impresso. Essas, irresistíveis, por meros
R$ 5. Pelo dobro, é possível
comprar modelos mais bem
acabados na loja do museu
Frida Kahlo, no bairro vizinho
de Coyocán. Um ótimo presente: barato, não ocupa espaço na mala e dá um toque étnico a uma produção casual.
A minha opção, claro, não
caberia na mala. É uma obra
em madeira, de cinco quilos,
de um artista desconhecido,
um certo Ramiro M. Larios.
Depois de uma bela pechincha, o preço do quadro caiu para o equivalente a R$ 400.
Foi encantamento à primeira vista, um enfeite perfeito
para minha parede branca,
que há tempos esperava alguma cor. Plástico-bolha daqui e
de lá, mais papel de embrulho
e estava pronto o pacote. Começava, então, a peregrinação
para fazer o quadro chegar intacto até o Brasil.
A determinação era ainda
maior pelo fato de, naquela
manhã, ter descoberto que o
meu calendário maia, de gesso, havia virado farelo. Foi parar no lixo o belo e frágil enfeite que havia comprado nas
cercanias de Chichén-Itzá, a
impressionante cidade sagrada dos maias, localizada no Estado de Yucatán.
Voltando à odisséia para o
pacote viajar rumo a São Paulo, a primeira barreira foi o
check-in da Aeromexico. A
atendente tentou despachar o
volume. Diante da minha cara
de pânico, deixou passar o
quadro como bagagem de
mão. Mas com um alerta: o
pessoal de bordo poderia
mandá-lo para o compartimento de carga, caso a lotação
estivesse esgotada.
Arrisquei. Ainda teria que
passar pelo sistema de segurança do aeroporto. Evidente
que o pacote ficou entalado na
esteira de raio-X. Não faltou
nem a figura do policial mexicano, com toda aquela má vontade de pequena autoridade, a
declarar: se não passasse pela
máquina, ele não faria o controle manual.
Tentei explicar do que se
tratava, mas ele não estava interessado. Vira daqui, mexe
dali, somente inclinado o pacote finalmente passou. Não
satisfeito, o tal funcionário ficou naquele vaivém. Um suspense básico de quem ainda
esperava encontrar cocaína...
Só, então, liberou o pacote.
Havia ainda o controle dos
tripulantes. O mico final foi ficar na fila bem cedo para ser
uma das primeiras a entrar no
avião e conseguir um lugarzinho para acomodar a coisa...
Hora de entregar o cartão de
embarque. Cara de paisagem e
o quadro passa sem ser notado, em meio aos passageiros.
Dentro do avião, a aeromoça
foi uma aliada. Procurou um
bagageiro vazio para acomodar o quadro numa posição
que permitia o fechamento do
compartimento. Minha "obra
de arte" chegou sem danos.Valeu a pena. O sol do México
brilha na minha sala.
ONDE ENCONTRAR
Maria Bonita
calle San Jacinto, 17, San Ángel
Cidade do México
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