São Paulo, sábado, 05 de julho de 2008

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BAGAGEM [compras mundo afora]

SUVENIR SEM ALÇA E SEM RODINHA

ELIANE TRINDADE
EDITORA DA REVISTA DA FOLHA

Trazer as cores quentes do México em algum objeto de decoração era o objetivo. A intenção virou um problema quando o suvenir se converteu em um trambolho de 60 cm por 70 cm, com espelho no centro. Não há bom senso que sobreviva quando você se apaixona por algo exposto numa simpática lojinha, bem no último dia de viagem.
A Maria Bonita é uma das dezenas de lojas de decoração e bugigangas para casa que circundam a feira de San Ángel, no bairro do mesmo nome, uma espécie de Benedito Calixto da Cidade do México. Os negócios rivalizam com as barraquinhas que lotam as calçadas, cheias das inevitáveis lembrancinhas produzidas em série.
Lá estão as bijuterias de prata, os carrinhos de madeira, os vestidos de algodão e, claro, as bolsas de plástico com o rosto de Frida Kahlo impresso. Essas, irresistíveis, por meros R$ 5. Pelo dobro, é possível comprar modelos mais bem acabados na loja do museu Frida Kahlo, no bairro vizinho de Coyocán. Um ótimo presente: barato, não ocupa espaço na mala e dá um toque étnico a uma produção casual.
A minha opção, claro, não caberia na mala. É uma obra em madeira, de cinco quilos, de um artista desconhecido, um certo Ramiro M. Larios. Depois de uma bela pechincha, o preço do quadro caiu para o equivalente a R$ 400.
Foi encantamento à primeira vista, um enfeite perfeito para minha parede branca, que há tempos esperava alguma cor. Plástico-bolha daqui e de lá, mais papel de embrulho e estava pronto o pacote. Começava, então, a peregrinação para fazer o quadro chegar intacto até o Brasil.
A determinação era ainda maior pelo fato de, naquela manhã, ter descoberto que o meu calendário maia, de gesso, havia virado farelo. Foi parar no lixo o belo e frágil enfeite que havia comprado nas cercanias de Chichén-Itzá, a impressionante cidade sagrada dos maias, localizada no Estado de Yucatán.
Voltando à odisséia para o pacote viajar rumo a São Paulo, a primeira barreira foi o check-in da Aeromexico. A atendente tentou despachar o volume. Diante da minha cara de pânico, deixou passar o quadro como bagagem de mão. Mas com um alerta: o pessoal de bordo poderia mandá-lo para o compartimento de carga, caso a lotação estivesse esgotada.
Arrisquei. Ainda teria que passar pelo sistema de segurança do aeroporto. Evidente que o pacote ficou entalado na esteira de raio-X. Não faltou nem a figura do policial mexicano, com toda aquela má vontade de pequena autoridade, a declarar: se não passasse pela máquina, ele não faria o controle manual.
Tentei explicar do que se tratava, mas ele não estava interessado. Vira daqui, mexe dali, somente inclinado o pacote finalmente passou. Não satisfeito, o tal funcionário ficou naquele vaivém. Um suspense básico de quem ainda esperava encontrar cocaína...
Só, então, liberou o pacote.
Havia ainda o controle dos tripulantes. O mico final foi ficar na fila bem cedo para ser uma das primeiras a entrar no avião e conseguir um lugarzinho para acomodar a coisa...
Hora de entregar o cartão de embarque. Cara de paisagem e o quadro passa sem ser notado, em meio aos passageiros.
Dentro do avião, a aeromoça foi uma aliada. Procurou um bagageiro vazio para acomodar o quadro numa posição que permitia o fechamento do compartimento. Minha "obra de arte" chegou sem danos.Valeu a pena. O sol do México brilha na minha sala.

ONDE ENCONTRAR
Maria Bonita
calle San Jacinto, 17, San Ángel Cidade do México


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