São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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CRÍTICA DE LOJA [questão de gosto e de opinião]

Megabuxixo vem no pacote megastore

Agora grandiosa, a nova livraria Cultura perde charme e ganha aquele barulho típico de programão dominical

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Antes de virar megastore, a Livraria Cultura ocupava três lojas diferentes no Conjunto Nacional. Entre livros em geral, de arte e obras de referência, era difícil saber ao certo onde terminava a oferta de uma e começava a da outra. Mas isso nunca foi problema. Na dúvida, entrava-se em todas. O apelo das vitrines era tentador e a escolha de obras, com ênfase nas artes e nas humanidades, preciosa. O que o arranjo carecia em grandiosidade e assunto para marketing, tinha de sobra em eficiência e charme.
Agora, a tradicional livraria paulista, com 60 anos de mercado, reuniu 100 mil títulos em uma loja de 4,3 mil m no mesmo prédio. Com ela, a cidade ganhou a maior coleção de livros em língua estrangeira que já viu; outro café que serve expressos certificados; e um programão de consumo dominical. Pela massa que a visita nos fins de semana, a demanda é fato.
Mas algo se perdeu na passagem, além do Astor, o cinema que havia ali e que a estranha arquitetura de balcões e rampas faz lembrar. Livros de arte, moda, design, gastronomia, cinema, alma da livraria, não têm mais o espaço e o destaque de antes. Estão espremidos em estantes longínquas, para além de uma enorme seção de informática. Na nova Cultura, por incrível que pareça, é mais fácil tropeçar em um livro sobre o Firefox do que em um de arte.
Menos obscura é a localização de outras seções fortes, como a infantil e a de novidades importadas (agendas e calendários escolhidos a dedo). Mas incomoda a caixa que guarda a banca de revistas, declaração de desconfiança ao cliente; o café, que além de ser caro, não se incumbe de limpar as mesas depois da passagem das pessoas; e a falta de lugares confortáveis para sentar e ler. Ou não me diga que a forma da Cultura de honrar a tendência são aquelas horrendas poltronas-saco do vão central.
Ao vender-se como programa, a impressão é de que a livraria acabou sacrificando um ingrediente básico nas melhores do mundo: o silêncio. Aqui, ele é privilégio de quem procura CDs de música erudita ou livros de fotografia. Para vasculhar a oferta da casa nas duas áreas, que continua muito acima da média, eles têm a paz de uma sala à parte.


ONDE ENCONTRAR
Livraria Cultura, av. Paulista, 2.073, Conjunto Nacional, tel. (11) 3170-4033, São Paulo, seg. a sáb.: 9h às 22h. Dom. e feriados: 12h às 20h.


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