São Paulo, sábado, 06 de outubro de 2007

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Bonalume vai às compras (colunista em campo)

Vinhos sem enochatice

A busca de vinhos e baratos é rotina deste repórter especializado em ciência, que consome a bebida todo santo dia com a desculpa "genética" de ser mezzo português-paulista, mezzo italiano-gaúcho

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Mas este vinho foi envelhecido em tonéis de carvalho americanos ou europeus?"
Faz diferença para o sabor? Bem, alguma deve fazer, entre os profissionais da vitivinicultura, os enólogos. Talvez nem tanto para as duas jovens interessadas na questão, ambas na flor dos vinte e poucos anos e pouca quilometragem na arte de sacar rolhas.
A pergunta foi entreouvida no Empório Mercantil, uma loja na rua dos Pinheiros, em São Paulo, que está popularizando o consumo da bebida mais importante da história humana.
A curiosa pergunta é uma prova de quão tênue é a linha separando o admirador do vinho, o enófilo, da sua versão pedante, o enochato.
A despretensiosa loja antes era conhecida como Mercantil Zero: os donos, Marcos Juliano e Celso Murilo Cardoso, aproveitaram o "0" no luminoso dos donos anteriores. Há dez anos, ali, se vendia mais uísque do que vinho. Hoje é o contrário.
Cardoso conta que eles ficaram uns três anos só investindo, sem ter lucros. "Vinho não era moda", diz ele, descendente de portugueses, que assim como o sócio, tem ancestrais italianos. Duas terras produtoras e consumidoras deste fermentado de uva. "Aí o vinho virou mito, moda. Demos um tiro no escuro e acertamos", continua. A loja cresceu e mudou de lugar na mesma rua em 2005.
A receita é simples: margem de lucro menor e ofertas quase imbatíveis. "É melhor vender dez vinhos por R$ 40 do que um por R$ 90", diz Cardoso.
Ele esteve recentemente em uma pizzaria da moda onde havia no cardápio um vinho Santa Helena por R$ 50 -sendo que ele o vende por R$ 17,50. "Não vou tomar isso, é burrice".


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