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Bonalume vai às compras (colunista em campo)
Vinhos sem enochatice
A busca de vinhos e baratos é rotina deste repórter especializado em ciência, que consome a bebida todo santo dia com a desculpa "genética" de ser mezzo português-paulista, mezzo italiano-gaúcho
RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Mas este vinho foi envelhecido em tonéis de carvalho
americanos ou europeus?"
Faz diferença para o sabor?
Bem, alguma deve fazer, entre
os profissionais da vitivinicultura, os enólogos. Talvez nem
tanto para as duas jovens interessadas na questão, ambas na
flor dos vinte e poucos anos e
pouca quilometragem na arte
de sacar rolhas.
A pergunta foi entreouvida
no Empório Mercantil, uma loja na rua dos Pinheiros, em São
Paulo, que está popularizando
o consumo da bebida mais importante da história humana.
A curiosa pergunta é uma
prova de quão tênue é a linha
separando o admirador do vinho, o enófilo, da sua versão pedante, o enochato.
A despretensiosa loja antes
era conhecida como Mercantil
Zero: os donos, Marcos Juliano
e Celso Murilo Cardoso, aproveitaram o "0" no luminoso dos
donos anteriores. Há dez anos,
ali, se vendia mais uísque do
que vinho. Hoje é o contrário.
Cardoso conta que eles ficaram uns três anos só investindo, sem ter lucros. "Vinho não
era moda", diz ele, descendente
de portugueses, que assim como o sócio, tem ancestrais italianos. Duas terras produtoras
e consumidoras deste fermentado de uva. "Aí o vinho virou
mito, moda. Demos um tiro no
escuro e acertamos", continua.
A loja cresceu e mudou de lugar
na mesma rua em 2005.
A receita é simples: margem
de lucro menor e ofertas quase
imbatíveis. "É melhor vender
dez vinhos por R$ 40 do que
um por R$ 90", diz Cardoso.
Ele esteve recentemente em
uma pizzaria da moda onde havia no cardápio um vinho Santa
Helena por R$ 50 -sendo que
ele o vende por R$ 17,50. "Não
vou tomar isso, é burrice".
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