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A arte de comprar (técnicas para escolher bem)
Poder de fogo
Onde, como e por que consumir pimenta, o ingrediente que diverte o paladar e dá personalidade à culinária brasileira
JANAINA FIDALGO
DA REPORTAGEM LOCAL
Elas têm formatos lindos, são
coloridas, cheirosas e sensuais.
Ainda assim, as pimentas são
temidas por muitos cozinheiros, porque despertam sensações fortes no paladar.
"Pimenta dá um brilho à comida, uma graça", diz a chef
Mara Salles, do restaurante
Tordesilhas, em São Paulo, especializado em pratos brasileiros. Ela lembra que uma das espécies é chamada de "cumari",
palavra tupi que significa "alegria do gosto".
Esse é um ingrediente obrigatório na culinária de Mara.
Quando quer comprar pimentas frescas, como bode, cheirosa do Pará, malagueta e fidalga,
ela vai direto à banca do Santo,
um vendedor que há 30 anos
está no ramo. Fica em frente ao
Mercadão Municipal e, segundo a chef, tem mais variedade e
preços melhores do que os praticados dentro do mercado. Ali,
Mara é recebida com reverência e tem autonomia para esquadrinhar à vontade as divisões da banca.
Mara aprendeu a usar pimentas ao se dedicar às tradições da cozinha brasileira.
"Elas são um sinalizador do
prato regional. Sem determinado tipo de pimenta, não há como preparar uma receita de
maneira autêntica", diz Mara.
"Uma galinhada goiana nunca é
servida sem a pimenta-de-bode
fresca. O vatapá do Pará não
existe sem a cheirosa, assim como a feijoada e o acarajé precisam de malagueta".
Alta dependência
Quem ainda tem medo precisa saber que o poder da pimenta não está só no ardor. "A pungência deve-se a um mistura de
substâncias, das quais a capsaicina é a mais importante. Volátil, é essa substância que libera
o aroma", afirma Arlete Marchi
Tavares de Melo, pesquisadora
do Instituto Agronômico de
Campinas (IAC).
A pungência das pimentas,
que alguns temem, é perseguida por outros, mesmo que de
maneira inconsciente, como
explica a pesquisadora do IAC.
"Quando você coloca a pimenta
na boca, a mensagem enviada
ao cérebro é que o organismo
está sendo queimado. Em resposta, o corpo libera endorfina
para acalmar essa dor". É por
isso que quem come pimenta
tem uma sensação boa: o organismo fabrica um antídoto para
apagar o incêndio. "O resultado
é prazer. Vira quase um vício. A
tendência do apreciador de pimenta é gostar sempre de tipos
cada vez mais ardidos."
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