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BAGAGEM [compras mundo afora]
Confortáveis até para a consciência
Sustentabilidade, acabamento artesanal e bom design
são diferenciais de rede inglesa de sapatos femininos
MANUELA MINNS
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Foi com design "trendy", respeito ao trabalho artesanal e
materiais ecológicos na cabeça
que o empresário Galahad
Clark chegou à direção da inglesa Terra Plana, marca de sapatos estilosa e autoproclamada a empresa calçadista mais
autosustentável do planeta.
Esses elementos, somados ao
fator "pés sem bolhas depois de
andar do metrô ao trabalho",
têm feito a cabeça das inglesas
mais descoladas desde 2003.
Designers, engenheiros de
novos produtos e representantes de organizações ambientais
trabalham juntos para desenvolver sapatos bonitos, funcionais e recicláveis.
As técnicas de confecção empregadas reduzem bem a quantidade de materiais poluentes,
como cola e solventes. Daí a
costura aparente, que dá um aspecto rústico-chique aos pares
e funciona também como um
traço de identidade de um modelo Terra Plana.
Está achando politicamente
correto demais? Não acabou.
De tempos em tempos, a Terra
Plana faz campanhas e dá 10%
de desconto em um novo par
para a consumidora que levar
seu sapato velho a uma das lojas. A ideia é reduzir a quantidade de lixo na terra e aumentar a vida útil de materiais industrializados, diz Clark: "O
ideal seria que todo mundo parasse de usar sapatos. Só estamos tentando fazer o melhor".
Uma das assinaturas da Terra Plana, além da tal costura,
são os sapatos feitos com colchas coloridas recicladas, produzidas em vilarejos pobres do
Paquistão e de Bangladesh. Um
desenho nunca é igual ao outro,
o que dá charme extra aos
peep-toes e escarpins. Nem por
isso os preços vão até o céu: um
par varia de 60 a 125 libras.
Mas o melhor de tudo é a sensação de andar por aí em cima
de um dos saltos altíssimos da
marca. Como os materiais são
leves, a gente nem sente. A sola,
flexível, e o acolchoado interno,
feito de espuma reciclada com
memória, permitem que você
chegue ao fim do dia sem dor.
Integrante da sétima geração
de uma tradicional família de
produtores de sapatos de Somerset, sul da Inglaterra, dona
da gigante rede Clarks, Galahad
cresceu rodeado por couros, solas e fôrmas. As férias de verão
ele passava em Northampton e
Itália, nas fábricas da família.
Depois de rodar o mundo e de
se formar em antropologia,
fundou a organização Students
4 Students International, que
atua com projetos humanitários na África. Passou a trabalhar na Clarks, onde tentou,
sem sucesso, implementar as
ideias que hoje são o fundamento da Terra Plana.
"Eu tentei, mas eles se movem a passos lentos", diz, referindo-se à Clarks. Então, em
2003, ele tomou as rédeas da
Terra Plana, até ali especializada em sapatos masculinos, e
transformou utopia em lucro.
O conceito que reúne beleza,
conforto e preocupação ambiental em um par de calçados
gerou um negócio com lojas em
Londres, Nova York, Viena e
Hong Kong. Os produtos são
distribuídos em 20 países.
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