São Paulo, sábado, 10 de novembro de 2007

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Achados em São Paulo

Largo da Batata tem a sua graça

Região é caótica e decadente, mas comércio tem personalidade

ANNETTE SCHWARTSMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Para muitos paulistanos, o Largo da Batata é um pedaço do inferno incrustado em Pinheiros. Para outros, é passagem obrigatória, já que abriga um terminal de ônibus. Esses sabem que ali dá para comprar uma variedade de coisas.
A visita pode começar no Mercado Municipal de Pinheiros, que não tem o charme e a variedade do Central, mas é vazio e tem estacionamento grátis. Além de produtos hortifrutigranjeiros, há boxes que vendem peixes e carnes especiais, como de cabrito (R$ 12,90 o quilo), carneiro (R$ 12,90 o quilo) e vitela (R$ 18,30 o pernil).
Na área do estacionamento estão as lojas de animais vivos: galos, coelhos, faisões e um roedor peruano, o peluvian, tipo de porquinho da índia de pêlo longo. Um filhote custa R$ 50.
Bem perto fica a Casa das Velas, que vende todo tipo de artigo religioso e as sempre pops estátuas de Iemanjá de todos os tamanhos (de R$ 40 a R$ 150).
Dobrando a esquina à direita, chega-se à Casa do Norte. Entre as iguarias nordestinas, queijo coalho (R$ 16,50 o quilo), rapadura (R$ 5,99 o quilo) e licor de jenipapo (R$ 14 o litro).
Na mesma calçada, a Marrach J.C. tem ofertas a partir de R$ 0,99. Não é a única do gênero no pedaço, mas tem um estoque eclético: de enfeites de Natal e bugigangas para cozinha a brinquedos. O alfabeto de madeira, que é também dominó e jogo da memória, sai por R$ 14,99. Um boneco gigante do Shrek custa R$ 69,99.
Do outro lado da Faria Lima tem uma loja de guloseimas que faz a festa dos ambulantes: a Largo dos Doces, onde um saco de 50 g de pipoca doce (a da embalagem rosa) custa R$ 0,30, ou R$ 5,70 o lote com 30. A caixa com 18 pacotes de chiclete Trident vale R$ 10,69 (R$ 0,59 cada um), e a unidade do Kinder Ovo custa R$ 2,20.
Ao lado fica a Cid, há 15 anos vendendo tecidos, roupas de cama, mesa e banho, travesseiros e cortinas. Um jogo de toalhas de banho de cinco peças da Buddemeyer sai por R$ 179.
Na mesma calçada, outro ponto tradicional do pedaço é a Misaspel, 25 anos de vida. Vende itens de papelaria, o básico em equipamentos de informática e materiais de artesanato como massa para modelar biscuit (R$ 2,40 o pacote).
Seguindo até a esquina e virando à direita fica a Casa de Pesca Pinheiros. Além de anzóis, iscas e molinetes, há curiosidades como uma roupa de tela à prova de insetos (R$ 193) e modelos de óculos com lentes polarizadas, que cortam o reflexo da água e permitem ver os peixes (a partir de R$ 150).

Ascensão e queda
No Largo da Batata, hoje, convivem camelôs, mendigos e lojas barateiras. Tudo defumado pelo cheiro de churrasquinho. Por volta de 1929, produtores do interior passaram a vender mercadorias ali, ao ar livre, dando origem ao "mercado dos caipiras" - que se transformou no Mercado de Pinheiros.
Na mesma época e lugar, agricultores de origem japonesa tentaram controlar a superprodução de batatas criando o que veio a ser a Cooperativa Agrícola de Cotia. O largo virou ponto de distribuição de frutas, legumes e cereais.
Nos 90, com as obras da Faria Lima, a região perdeu a feição original. Em 2004, com as obras do metrô, deteriorou-se mais. Há planos de revitalização, entre eles um que prevê ali um centro de gastronomia brasileira. Enquanto não acontece, o largo segue degradado, mas conserva sua identidade.


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