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Achados em São Paulo
Largo da Batata tem a sua graça
Região é caótica e decadente, mas comércio tem personalidade
ANNETTE SCHWARTSMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Para muitos paulistanos, o
Largo da Batata é um pedaço do
inferno incrustado em Pinheiros. Para outros, é passagem
obrigatória, já que abriga um
terminal de ônibus. Esses sabem que ali dá para comprar
uma variedade de coisas.
A visita pode começar no
Mercado Municipal de Pinheiros, que não tem o charme e a
variedade do Central, mas é vazio e tem estacionamento grátis. Além de produtos hortifrutigranjeiros, há boxes que vendem peixes e carnes especiais,
como de cabrito (R$ 12,90 o
quilo), carneiro (R$ 12,90 o quilo) e vitela (R$ 18,30 o pernil).
Na área do estacionamento
estão as lojas de animais vivos:
galos, coelhos, faisões e um roedor peruano, o peluvian, tipo de
porquinho da índia de pêlo longo. Um filhote custa R$ 50.
Bem perto fica a Casa das Velas, que vende todo tipo de artigo religioso e as sempre pops
estátuas de Iemanjá de todos os
tamanhos (de R$ 40 a R$ 150).
Dobrando a esquina à direita,
chega-se à Casa do Norte. Entre
as iguarias nordestinas, queijo
coalho (R$ 16,50 o quilo), rapadura (R$ 5,99 o quilo) e licor de
jenipapo (R$ 14 o litro).
Na mesma calçada, a Marrach J.C. tem ofertas a partir de
R$ 0,99. Não é a única do gênero no pedaço, mas tem um estoque eclético: de enfeites de Natal e bugigangas para cozinha a
brinquedos. O alfabeto de madeira, que é também dominó e
jogo da memória, sai por R$
14,99. Um boneco gigante do
Shrek custa R$ 69,99.
Do outro lado da Faria Lima
tem uma loja de guloseimas
que faz a festa dos ambulantes:
a Largo dos Doces, onde um saco de 50 g de pipoca doce (a da
embalagem rosa) custa R$
0,30, ou R$ 5,70 o lote com 30.
A caixa com 18 pacotes de chiclete Trident vale R$ 10,69 (R$
0,59 cada um), e a unidade do
Kinder Ovo custa R$ 2,20.
Ao lado fica a Cid, há 15 anos
vendendo tecidos, roupas de
cama, mesa e banho, travesseiros e cortinas. Um jogo de toalhas de banho de cinco peças da
Buddemeyer sai por R$ 179.
Na mesma calçada, outro
ponto tradicional do pedaço é a
Misaspel, 25 anos de vida. Vende itens de papelaria, o básico
em equipamentos de informática e materiais de artesanato
como massa para modelar biscuit (R$ 2,40 o pacote).
Seguindo até a esquina e virando à direita fica a Casa de
Pesca Pinheiros. Além de anzóis, iscas e molinetes, há curiosidades como uma roupa de
tela à prova de insetos (R$ 193)
e modelos de óculos com lentes
polarizadas, que cortam o reflexo da água e permitem ver os
peixes (a partir de R$ 150).
Ascensão e queda
No Largo da Batata, hoje, convivem camelôs, mendigos e lojas barateiras. Tudo defumado pelo cheiro de churrasquinho. Por volta de 1929, produtores do interior passaram a vender mercadorias ali, ao ar livre,
dando origem ao "mercado dos caipiras" - que se transformou no Mercado de Pinheiros.
Na mesma época e lugar, agricultores de origem japonesa tentaram controlar a superprodução de batatas criando o que veio a ser a Cooperativa Agrícola de Cotia. O largo virou ponto de distribuição de
frutas, legumes e cereais.
Nos 90, com as obras da Faria Lima, a região perdeu a feição original. Em 2004, com as obras do metrô, deteriorou-se mais. Há planos de revitalização, entre eles um que prevê ali um centro de gastronomia
brasileira. Enquanto não acontece, o largo segue degradado, mas conserva sua identidade.
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