São Paulo, sábado, 11 de julho de 2009

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BAGAGENS [compras mundo afora]

O melhor dog em NY

OSMAR FREITAS JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

New York está enganada. Isto é: a revista com esse nome, e não a cidade que a inspira. Erra, há anos, em seu julgamento sobre o melhor "hot dog" local. No resultado viciado, o campeão é sempre o Gray's Papaya (2090 Broadway, em Manhattan).
Os paladares dos cidadãos que habitam estas latitudes discordam. O melhor "dog" está no Lower East Side, na esquina da 205 East Houston, com Ludlow St. Quem vende 12 mil salsichas com pão por semana deve estar certo.
É verdade que ninguém se entende na metrópole, especialmente quando se trata de comida. Há a enorme ala dos que defendem o "hot dog" dos estádios de beisebol. São, é claro, pessoas de gosto simplório. Um indivíduo que aguenta nove tempos num jogo (e que pode subir para 11 segmentos) fica faminto ao ponto de comer pedras.
Os tradicionalistas apontam o dedo para os lados de Coney Island, mais exatamente para uma banca em 1310 Surf Avenue, no Brooklyn. Dizem que, além de qualidade suprema, o celebrado Nathans's Famous dali inventou o "hot dog". New York erra. Dessa vez, é a cidade toda que se equivoca. Nathan's, quando ainda não era "Famous", só globalizou a fama do sanduíche, com marketing impecável. Inventou o concurso anual premiando o maior devorador de cachorros quentes.
Mas na Europa, lá pelas bandas do rio Danúbio, os homens já comiam pão com salsicha possivelmente desde os tempos de Alarico, o rei visigodo (395-410), que ajudou a detonar o império romano.
Mas foi da Rússia que saiu a família Katz para montar, em 1888, seu reinado no Lower East Side de Manhattan. A prova de que fazem mesmo o melhor "hot dog" da cidade pode ser vista na cena do filme "Harry e Sally" (1989), onde a personagem interpretada por Meg Ryan tem um orgasmo barulhento numa das mesas da casa. E olha que ela estava de frente para o nada atraente Billy Crystal. Naquela mesma mesa, hoje, há uma placa com os dizeres: "Onde Harry encontrou Sally... Esperamos que você experimente o mesmo que ela".
Meg, claro, fingiu, mas o chef-e-celebridade Anthony Bourdain foi autêntico. Dedicou dois de seus programas na TV para mostrar a casa ao mundo e apontá-la como residência do melhor cachorro quente neste lado da galáxia.
O segredo da Katz está no preparo dos temperos e no modo de cozimento do bastão de carne. A maioria dos "hot dogs" de Nova York vem das fábricas da empresa Sabrett. Trata-se de indústria que obedece aos rígidos padrões da cozinha kosher (religiosa israelita), usando apenas partes de gado devidamente inspecionados por rabinos.
Mas as salsichas do Katz exigem mistura especial (e secreta) de condimentos. Também são maiores, e sempre grelhadas vagarosamente. Ao contrário de suas colegas no Gray's Papaya, que terminam fervidas em água quente.
Os chapeiros do velho restaurante da Houston acomodam o "dog" numa cama quentinha: o pão é levemente tostado. A preciosidade custa meros US$ 3,10 (R$ 6,18). E tanto esmero valeu ao Katz, agora no começo do verão, o título de campeão da modalidade numa pesquisa popular encomendada pela prefeitura. "Vox populi, vox Dei".


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