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BAGAGENS [compras mundo afora]
O melhor dog em NY
OSMAR FREITAS JR.
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
New York está enganada.
Isto é: a revista com esse nome, e não a cidade que a inspira. Erra, há anos, em seu julgamento sobre o melhor "hot
dog" local. No resultado viciado, o campeão é sempre o
Gray's Papaya (2090 Broadway, em Manhattan).
Os paladares dos cidadãos
que habitam estas latitudes
discordam. O melhor "dog"
está no Lower East Side, na
esquina da 205 East Houston,
com Ludlow St. Quem vende
12 mil salsichas com pão por
semana deve estar certo.
É verdade que ninguém se
entende na metrópole, especialmente quando se trata de
comida. Há a enorme ala dos
que defendem o "hot dog" dos
estádios de beisebol. São, é
claro, pessoas de gosto simplório. Um indivíduo que
aguenta nove tempos num jogo (e que pode subir para 11
segmentos) fica faminto ao
ponto de comer pedras.
Os tradicionalistas apontam o dedo para os lados de
Coney Island, mais exatamente para uma banca em
1310 Surf Avenue, no
Brooklyn. Dizem que, além de
qualidade suprema, o celebrado Nathans's Famous dali inventou o "hot dog". New York
erra. Dessa vez, é a cidade toda que se equivoca. Nathan's,
quando ainda não era "Famous", só globalizou a fama
do sanduíche, com marketing
impecável. Inventou o concurso anual premiando o
maior devorador de cachorros quentes.
Mas na Europa, lá pelas
bandas do rio Danúbio, os homens já comiam pão com salsicha possivelmente desde os
tempos de Alarico, o rei visigodo (395-410), que ajudou a
detonar o império romano.
Mas foi da Rússia que saiu a
família Katz para montar, em
1888, seu reinado no Lower
East Side de Manhattan. A
prova de que fazem mesmo o
melhor "hot dog" da cidade
pode ser vista na cena do filme "Harry e Sally" (1989), onde a personagem interpretada
por Meg Ryan tem um orgasmo barulhento numa das mesas da casa. E olha que ela estava de frente para o nada
atraente Billy Crystal. Naquela mesma mesa, hoje, há uma
placa com os dizeres: "Onde
Harry encontrou Sally... Esperamos que você experimente o mesmo que ela".
Meg, claro, fingiu, mas o
chef-e-celebridade Anthony
Bourdain foi autêntico. Dedicou dois de seus programas na
TV para mostrar a casa ao
mundo e apontá-la como residência do melhor cachorro
quente neste lado da galáxia.
O segredo da Katz está no
preparo dos temperos e no
modo de cozimento do bastão
de carne. A maioria dos "hot
dogs" de Nova York vem das
fábricas da empresa Sabrett.
Trata-se de indústria que obedece aos rígidos padrões da
cozinha kosher (religiosa israelita), usando apenas partes
de gado devidamente inspecionados por rabinos.
Mas as salsichas do Katz
exigem mistura especial (e secreta) de condimentos. Também são maiores, e sempre
grelhadas vagarosamente. Ao
contrário de suas colegas no
Gray's Papaya, que terminam
fervidas em água quente.
Os chapeiros do velho restaurante da Houston acomodam o "dog" numa cama
quentinha: o pão é levemente
tostado. A preciosidade custa
meros US$ 3,10 (R$ 6,18). E
tanto esmero valeu ao Katz,
agora no começo do verão, o
título de campeão da modalidade numa pesquisa popular
encomendada pela prefeitura.
"Vox populi, vox Dei".
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