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BAGAGEM [compras mundo afora]
Pechincha chique
Em Londres, loja atrai multidões com "milagrosa" combinação de roupas antenadas e preços baixos
Fernanda Mena/Folha Imagem
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Vitrine da Primark Oxford Street, um dos endereços comerciais mais cobiçados na capital britânica; a rede varejista irlandesa é fenômeno de vendas, com suas cópias baratas de tendências das passarelas
FERNANDA MENA
EM LONDRES
Uma sacola feia de papel pardo impera nas ruas da capital
britânica. Em tempos de recessão no Reino Unido, ela é sinônimo da equação que nunca sai
de moda: mais por menos.
A Primark, rede varejista irlandesa, virou fenômeno há um
par de anos, quando passou a
reeditar modelos de grifes internacionais a preços baixíssimos. Em seus 196 endereços
espalhados pela Europa, uma
calça jeans skinny custa o equivalente a R$ 28, uma camiseta
masculina de estampa esperta
sai por míseros R$ 12 e uma
bolsa tiracolo vai para a tal sacola parda por R$ 8.
Além do preço, a rede reproduz tendências em tempo recorde. "Navy"? Florais? Militarismo? Se está na moda, pode
apostar que está nas araras da
Primark. A combinação de preço baixo com modismos gerou
uma nova gíria entre fashionistas britânicos: o "cheap-chic".
"Sei que são roupas feitas para não durar muito", diz a aposentada Mary Rawefi, 70. "Mas
prefiro comprar uma nova tendência sem ter de investir muito. Se der certo, ótimo. Se não
der, tudo bem também."
Como a ideia não é fazer moda, mas levá-la ao maior número de pessoas possível, a marca
não só é democrática com os
hits da temporada, abraçando
todos sem constrangimento,
como com os tamanhos. Os manequins vão do 34 ao 46.
Na fila do provador, a estudante sueca gordinha Secil
Kayhan, 24, mal conseguia segurar tudo que havia selecionado. "É maravilhoso! Na Suécia
nunca encontro tantas opções
em tamanhos grandes."
A maior loja da Primark, em
Londres, fica na Oxford Street,
a poucos metros da Selfridges,
espécie de Daslu do Reino Unido, casa de grifes como Chanel,
Vuitton e Marc Jacobs.
Por ali, passam diariamente
mais de 4.000 consumidores
atrás do tal "mais por menos".
Aos finais de semana, a loja
amanhece com uma fila de garotas na porta, ávidas por serem as primeiras a escolher e
comprar. Isso porque, em tardes de sábado e domingo, ir à
Primark é enfrentar uma multidão alucinada e hostil.
"Trabalhar aqui é um inferno!", brinca Allen Michael, 25,
vendedor da Primark há três
anos. "As lojas funcionam 24
horas por dia, sete dias por semana, para manter um sistema
de reposição permanente. Ainda assim, quando acaba algum
modelo, os clientes ficam malucos e chegam até a agredir os
funcionários da loja."
"É tudo tão barato que chega
a ser inacreditável. Fica difícil
passar aqui por perto sem dar
uma olhada no que há de novo e
levar algo para casa, mesmo
quando não preciso de nada",
admite a professora Peccol Marian, 26, que leciona a poucos
quarteirões de uma das lojas.
O descontrole que a Primark
parece despertar mascara, no
entanto, um lado perverso desse consumo "cheap-chic". Por
trás da mágica dos preços da rede estão linhas de produção hiperexploradas, com baixos salários, e até acusações de uso de
mão de obra em sistema análogo à escravidão em países como
Índia e Bangladesh.
A Primark afirma que mantém um esquema de monitoramento de seus fornecedores e
criou parcerias com ONGs em
países asiáticos, para criar diretrizes na linha do chamado "comércio justo".
O caso pegou mal para a marca. Mas como moda e consumo
são também escapismo, mesmo depois das denúncias, a rede comemorou, em pleno ano
da crise, um incremento de
20% nos lucros.
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