São Paulo, sábado, 13 de junho de 2009

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Maria Inês Dolci [defesa do consumidor]

O que fica da tragédia


Como indenizar os familiares é questão desagradável e com a qual as empresas geralmente lidam mal

A TRAGÉDIA do Airbus 330 da Air France nos provoca várias reflexões. Esperei, caro leitor, propositadamente, para escrever sobre o assunto. Há muito sentimento envolvido, tanto de familiares e amigos, que pranteiam os passageiros, quanto de todos os que se solidarizam com as vítimas. Mas não se pode evitar uma abordagem dos passageiros como consumidores. É uma questão que diz respeito a todos nós que usamos o meio de transporte aéreo.
Uma companhia aérea tem imensas responsabilidades. Quando entramos em um avião, partimos do pressuposto de que teremos segurança, conforto e respeito. Claro que sabemos dos riscos, inerentes a qualquer meio de transporte, como as turbulências, companheiras indesejadas de muitas viagens.
Viajar por uma renomada companhia aérea significa pagar o preço para ter ainda mais conforto e segurança. É isso, sim, que procuramos.
Então, o mínimo que a Air France terá de fazer, tão logo quanto possível, é esclarecer com a máxima transparência os seguintes pontos:
-o que ocasionou o acidente;
-que medidas tomará, e em que prazo, para evitar novas ocorrências trágicas;
-por que tais ameaças não foram detectadas antes;
-como e quando indenizará os familiares das vítimas, questão sempre desagradável de se tratar, e com a qual as empresas lidam, geralmente, muito mal.
Todos os passageiros gostariam de receber mais informações sobre os trajetos dos aviões e os riscos existentes, antes de optar por uma viagem ou companhia.
Como bem escreveu nesta Folha Ronnie Von, sabemos, racionalmente, que o transporte aéreo é mais seguro do que os demais. Por outro lado, a milhares de metros do chão, estamos totalmente nas mãos dos pilotos, projetistas, mecânicos, controladores de voo.
Bípedes recentes considerando a história da humanidade, ainda tememos a ousadia dos pássaros, mas nos arvoramos em aves pelo desejo de encurtar as distâncias.
Uma outra recomendação às autoridades que atuam, com extrema dedicação, nos trabalhos de localização, recolhimento e identificação de corpos e destroços do avião: seria muito importante que, em crises agudas como essa, o porta-voz fosse um profissional de comunicação do governo.
As primeiras ilações do ministro da Defesa, Nelson Jobim, ainda que bem-intencionadas, foram açodadas. Seria importante que tais comunicados se restringissem a um profissional, por exemplo, como o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins.
Tudo isso, evidentemente, não reduz o sofrimento de quem tinha relações de parentesco, amizade ou coleguismo com algum dos passageiros. Não estamos, definitivamente, preparados para tais tipos de perda, ainda mais quando ocorrem tão repentina e tragicamente.
A todos que estão nessa situação, meus profundos sentimentos.

http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br


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