Marca americana de aura fashion cobra bem e tira o couro

Além da avalanche de referências nem sempre muito sensacionais, o esforço da marca produziu alguns dos acessórios casuais mais caros que você já viu, e nem de longe os mais charmosos

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Mulheres e bolsas são, sabe-se, um caso grave. Ainda estamos por elucidar os componentes do poder do acessório, do qual nunca se chega a possuir uma quantidade suficiente nessa vida, ainda que já não haja mais onde enfiá-los.
Mesmo assim, acho difícil entender pelo que, exatamente, se digladiam nos outlets do mundo as seguidoras da marca americana LeSportsac, que abriu loja própria há pouco em São Paulo.
O material promocional fartamente reproduzido na internet explica que a marca de bolsas de náilon existe há décadas, mas ganhou recentemente uma aura "fashion", graças a parcerias com "artistas que ditam moda", como a estilista Stella McCartney e a blogueira Fifi Lapin.
Já a loja dá a impressão de que, para além dessa avalanche de referências nem sempre muito sensacionais, o esforço hercúleo de branding da marca conseguiu produzir apenas alguns dos acessórios casuais mais caros que você já viu, e nem de longe os mais charmosos.
A famigerada linha Stella McCartney é um exemplo.
Apesar dos detalhes, como nécessaires que se desacoplam das naves-mãe, são bolsas esportivas de formas e cores comuns, para não dizer sem graça.
À exceção gloriosa da mochilinha-escultura no formato da cabeça de um cervo (R$ 480), em nada lembram a ousadia das criações da estilista para a Adidas, por exemplo. Já o preço lembra: uma bolsa custa R$ 1.042.
Por que mesmo? "É uma bolsa de grife, assinada pela Stella McCartney", a moça explica. Ah. E, à guisa de argumento extra, ainda tenta me aplicar a lógica genial segundo a qual o náilon, aliás "ecopoliéster", é ecológico, porque não é couro. O que justificaria o fato de um custar mais do que o outro. Como diz o povo, adoro!
De forma semelhante, parcerias com nomes da toy art, como o designer Simone Legno, seriam suficientes para justificar a onipresente tendência infanto-juvenil da estamparia. Pena. Não escapam dela nem as ótimas ideias em bolsinhas para carregar pouca coisa, cases para câmeras, moedeiros e carteiras até R$ 150. É o melhor da marca.