Cafeteria serve a bebida até com pó de ouro comestível

O que incomoda ali é a idéia onipresente de que o café, esse nosso velho conhecido, deva ser apreciado como um vinho, para fazer sonhar acordado

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Octavio é um templo yuppie ao café. Com arquitetura querendo ser Los Angeles, oferece o produto de "aroma marcante" e de "corpo pronunciado" da fazenda do dono, em Pedregulho (SP), além de outras variedades igualmente bem-nascidas. O café vem de todas as formas: em grão, moído na espessura mais adequada à sua cafeteira, expresso, com brigadeiro, com cardamomo -até passado no coador, já que, aparentemente, há quem tenha apego ao sistema. O lugar também mantém uma loja com torradoras e máquinas de expresso e escolhe funcionários capazes de dar explicações precisas sobre aromas, moagens e origens.
O adro dessa igreja é um salão com ar de bar executivo, mesas baixas e um cyber café com os maiores monitores da categoria, tudo cercado por espaços para encontros corporativos. Do grande balcão, onde fumegam cafeteiras francesas de êmbolo e italianas Moka, saem boas idéias sugeridas no cardápio, de trios de expressos importados para degustação a engenhosos cafés-sobremesa, como a taça em que uma boa colherada de doce de leite vai escorregando para dentro da bebida.
De boas idéias, aliás, o menu está cheio. Da lista de chás gelados ao suco de maçã verde com limão e gengibre, de "tapas" de tapioca com pasta de bacalhau à torta tatin de banana, há sugestões para fomes e dias diferentes. O cardápio é mais moderno que o inexplicável uniforme longo que inventaram de vestir nas meninas ou o marrom que cobre as paredes de alto a baixo (são tons de café, entendeu?). Os preços não são camaradas, como você já previa, mas tampouco são abusivos. A exceção é o drinque que leva café, ovos nevados, laranja e ouro em pó comestível, cotado a R$ 26.
Mais do que preços ou deslizes arrivistas, o que incomoda no Octavio é a idéia onipresente de que o café, esse nosso velhíssimo conhecido, deva ser apreciado e cultuado como "um vinho que faz sonhar acordado". É o que diz uma das frases recortadas letra a letra no chão de madeira da casa, e que, para máximo efeito, se iluminam por baixo conforme você se aproxima. Como o arroubo decorativo-audiovisual, o texto força um pouco. E, se o café é um poderoso estimulante, seu culto exagerado tem efeito contrário: dá preguiça.