São Paulo, sábado, 13 de setembro de 2008

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BAGAGEM [compras mundo afora]

UM DIA NA VILA DE BERLIM

Casas na Hackescher Höfe concentram um comércio amigável para quem quer levar a cidade na mala

DA ENVIADA ESPECIAL A BERLIM

Pela larga avenida Unter den Linden, que começa com o hotel Adlon (de onde Michael Jackson pendurou seu filho, ainda bebê, para exibir aos fãs), há pedaços do antigo muro ao lado de lojas de suvenires kitsch: canecas, bonequinhas em trajes típicos e pratos pintados. É melhor mudar de ares.
A leste do centro, mas ainda não na antiga Berlim Oriental, as vilinhas interligadas chamadas de Hackescher Höfe já fizeram parte de um bairro judeu. O conjunto é do início do século passado. Restaurado há mais de dez anos, o espaço concentra lojinhas de estilistas, como Lina D., livrarias, cafés, butiques e, claro, a onipresente loja temática Ampelmann Shop, que homenageia o homenzinho dos faróis de pedestres da cidade. Mais turística, impossível, mas vale a pena. O homenzinho, nas poses "ande" e "pare", vira esponja, guarda-chuva, ímã, cadeira de praia e camiseta.
Em uma casa vizinha, a Serendipity tem azulejos decorativos com pinturas de cadeiras, para usar como aparador de copo ou só de enfeite mesmo, espelhos de bolsa que parecem bottons e roupinhas de bebê que custam um rim (cerca de 60 euros por um body). Os chocalhos de tecido são mais razoáveis, a 19,90 euros cada um.
O divertimento para adultos fica por conta da Artificium, livraria que é um prato cheio para quem ainda não conseguiu achar normais os traumas aparentes de Berlim. O jogo de memória Fake for Real (19,90 euros) propõe a brincadeira de associar o real à sua representação: hambúrguer do comercial versus o de verdade, seios de silicone e originais, e assim por diante. Ali está à venda o livro "Art Brands", que mostra produtos com nomes de artistas, como o vinho Duchamp e a pasta de dentes Rembrandt. A edição bilíngue custa 19,80 euros. Para guardar a lembrança da Berlim do início do século 20, a livraria tem os livros de charges de Heinrich Zille, como o "Kinder der Strasse" (as crianças da rua, em tradução livre), por 7,95 euros, que mostra cortiços, bares e o cotidiano do passado.
Em volta das vilinhas, há ruas estreitas a serem exploradas. Na Sophienstrasse, a pequena vitrine cheia de bonecos de madeira é irresistível. Dentro, há milhares deles, feitos à mão em Erzgebirge, cidade no sul da Alemanha. Um pastor com sua ovelha sai por 41,80 euros.
Em direção a Hackescher Market, a praça do mercado do bairro, mais uma loja de brinquedos, com uma proprietária nada amigável. Lá tem um curioso jogo de polícia e ladrão, com instruções bilíngues, ainda bem, e baralhos ilustrados com flores, bichos ou cogumelos, cada carta diferente da outra. De volta à rua, de volta à realidade. Ainda em Grosse Hamburger Strasse está o primeiro cemitério judaico da cidade, destruído pelos nazistas em 1943. Hoje, virou um monumento, com uma estátua na qual sobreviventes e parentes colocam pedrinhas (quem viu "A Lista de Schindler" se lembra do gesto). Berlim não permite esquecer seus próprios pecados. (DÉBORA MISMETTI)


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