São Paulo, sábado, 15 de agosto de 2009

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Cada caso é um casaco

Aprenda de uma vez a escolher o agasalho mais adequado a cada tipo de frio e saiba as qualidades dos diferentes tecidos

Ricardo Toscani


SIMONE ESMANHOTTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

PhD em biquíni, o brasileiro, em geral, fica no bê-á-bá se o assunto é agasalho. Na hora de viajar para outros países, muita gente se arrisca a levar desastres climáticos na bagagem.
"Há frios e frios. Portanto, há casacos e casacos", resume o engenheiro têxtil Silvio Napoli.
Gerente de capacitação tecnológica da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confecção), o engenheiro diz que o segredo da proteção certa para um clima específico se esconde nas fibras dos tecidos: "Lã, poliamida e acrílico funcionam de jeitos diferentes", diz. Na hora de comprar, defende ele, é bom ser racional, quer dizer, ir além das aparências e pensar na função da peça.
Casacos são os legítimos substitutos dos nossos pelos ancestrais, proteção natural depilada pela evolução da espécie. Mas, como no caso dos pelos, princípio que vale até para ursos polares, casacos não esquentam. Funcionam como isolantes, impedindo a troca de calor entre o corpo quente e o ambiente frio (sem falar na troca de umidade, vulgo deixar o suor evaporar). É aqui que entram as fibras: elas aprisionam o ar, dificultando esse vaivém.
Cada casaco responde melhor a um tipo de frio, que pode ser leve, úmido, seco, com chuva, com vento ou com neve (leia quadro com exemplos à pág. 3).
Aqui entra o popular "efeito cebola". A primeira camada de roupa tem a função de absorver o suor do corpo e ser confortável para a pele (em geral, uma camiseta de algodão basta). A segunda serve para "esquentar": pode ser um casaco de tricô de lã, um suéter de cashmere e até um moletom de algodão, felpudo por dentro.
Não dá para levar em conta só o termômetro. "Na chuva, sentimos que a temperatura está três graus mais baixa. Com o vento, pelo menos cinco graus", diz André Madeira, chefe de meteorologia da Climatempo. Temperatura do corpo (entre 34 C e 39 C), gordura, massa muscular e gênero também fazem variar a sensação térmica. Sem falar na intimidade: uma cria dos pampas não se choca com o "viento sur" como um paraense.
"Quem escolhe errado um casaco está sujeito não só a resfriados, mas a dermatites", diz Cosmo Burti, especialista em fibras e instrutor do Senai-SP.
A lã preserva o calor do corpo, mas não impede a entrada do frio. O acrílico, seu equivalente sintético, tem a vantagem de ser simpático ao bolso, mas retém a umidade, podendo causar assaduras. As poliamidas (náilon e cia.) equivalem a se vestir com um guarda-chuva: repelem a água mas, dependendo da tecnologia usada na produção, são desconfortáveis, não deixam a pele respirar.
Para complicar, a indústria têxtil está mais "hi-tech". Um casaco mais grosso já pode não significar que ele é mais quente. Não dá, também, para se guiar pelo toque -texturas enganam até vendedores, hoje mais preparados para falar sobre "jeitos fashion" de usar do que sobre a função da roupa.
Resta olhar a etiqueta e seguir esta fórmula: a base precisa ser mata-borrão, a cobertura precisa ser guarda-chuva. O que vai no meio é lucro!


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