São Paulo, sábado, 16 de janeiro de 2010

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Muvuca de mães e bebês

Repórter conta sua estreia em liquidação de loja infantil

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Não sou rata de liquidação, ao contrário. Mas sou mãe...
Era o primeiro dia da liquidação da Alô Bebê. Quem viu imagens do Magazine Luiza, com gente abraçada a geladeiras, pode imaginar. Cheguei à loja da Aclimação às 10h, uma hora após a "abertura dos portões".
Os manobristas já corriam no leva e traz, uma vez que as vagas na porta nada significavam em meio àquele rush. E o embarque e o desembarque, nessas lojas, têm seu ritmo. Muitos chegam com bebês presos às cadeirinhas, e levam, no porta-malas, carrinhos para conduzir os pobres ao caos.
Na loja, uns choravam em colos de mães, ou de pais e avós convocados para apoiar a operação. Outros, felizes, engatinhavam entre pilhas de roupas e se apoiavam em montes de caixas para levantar e cair.
Decidi ser prática. Fernando, que foi escolher a roupa da sua festa de 5 anos, não merecia aquilo. Fomos às araras do número seis, e do um, para Henrique. Em 15 minutos, minha cesta estava cheia. Só pagar. Olhei a fila: o fim era quase na rua e, numa loja de grávidas e mães com bebê no colo, ninguém passa na frente. Mais de uma hora, calculei.
Fui à gerente. Eram 10h30, tinha de trabalhar às 11h. Poderia guardar a cesta para eu buscar depois? Deixaria cartão, RG, cheque. "É proibido reservar. Só se deixar num canto e ninguém mexer", sugeriu.
Convoquei Fernando, que quer ser espião quando crescer, para buscar o esconderijo. Na seção de brinquedos, dentro de um berço... Tudo era arriscado. Achamos um armário alto perto dos provadores. A questão era conseguir colocar a cesta lá.
"Se eu te levantar, você consegue, filho?" Ele tentou segurar a cesta. "Pesada, mãe." Passou um pai com mais que meu 1,60 m, que monitorava a correria do filho enquanto a mulher se jogava nas ofertas. Também não alcançou. O jeito foi pedir o banco em que uma mãe estava sentada. Como há gente solidária em uma guerra...
A cesta foi entocada, Fernando, deixado em casa, e eu fui trabalhar, nós dois torcendo pelas roupinhas. Perto das 19h, encarei os manobristas outra vez e corri ao armário. Tudo estava lá e ainda havia uma poltrona de pelúcia da Hello Kitty que usei de escada. "Só" uns 20 minutos de fila para pagar, outros 20 para pegar o carro, e lá fui eu, feliz, contar ao meu espião que nosso plano deu certo.


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