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PEGUE-NÃO-PAGUE
A chamada "economia grátis" se espalha do mundo digital para o mercado real; a grande
estratégia de marketing, agora, é tentar fisgar a sua atenção e conquistar a sua fidelidade
oferecendo brindes, serviços gratuitos e lojas que aparentemente não vendem nada
DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Pagar está em baixa. Pagar
caro, então, nem pensar. Além
da crise, que tem desestimulado compras, a chamada "economia grátis" (ou "freeconomics", como cunhou a revista
"Wired"), surgida na internet,
está chegando ao mundo real.
Na rede, a maioria já se acostumou a usar serviços sem pôr
a mão no bolso. Fora, formas de
consumo grátis, ou "freesumerism" (como nomeou a consultoria de tendências The Future
Lab), têm se disseminado, com
a força dessa geração viciada
em pegar sem pagar.
Operadoras de celular usam
esse modelo, quando "dão" o
celular ao consumidor, em troca da sua fidelidade a um contrato. É o tal subsídio cruzado.
Agora, na Inglaterra, uma
operadora dá chip, minutos e
mensagens SMS grátis a usuários, com a contrapartida de
poder entupi-los de torpedos
publicitários. É a Blyk, que se
mantém por anúncios e alveja
jovens de 18 a 24 anos.
A loja de móveis Ikea, presente na Europa e nos EUA,
criou uma linha de balsa entre a
ilha de Manhattan, em Nova
York, e sua loja, no Brooklyn.
Quem a usa não paga e nem
precisa comprar na Ikea. "Serve para o consumidor gostar
mais da marca", diz Paulo Al-Assal, diretor da Voltage, que
representa o Future Lab aqui.
Há reedições da velha "amostra grátis". Na Inglaterra, o serviço Matter, dos correios, envia
à casa de quem se cadastra no
site uma caixa de novidades selecionadas, como produtos de
beleza e DVDs. As primeiras foram enviadas no fim do ano e a
ideia, segundo a Matter, é juntar produtos de acordo com o
perfil de cada pessoa. O lucro
viria em forma de publicidade
boca-a-boca dos produtos.
Iniciativa semelhante vem
do Japão. O Sample Lab, em
Tóquio, cobra taxa anual de
US$ 9 para que as pessoas levem novos produtos para casa,
a título de experiência.
Esses modelos buscam burlar a pulverização da atenção
dos consumidores, perdida pela internet. Segundo a teoria,
dessa forma o alvo da mensagem fica concentrado e ela chega só a quem interessa.
No Brasil, a marca Arno tem
"lojas" onde oferece cursos gratuitos e experimentação de
produtos. A Viver Casa & Gourmet deixa à disposição de quem
entra alimentos, roupas, xampus, tudo o que for necessário
para testar um eletrodoméstico. Nada está à venda lá dentro.
"Fazemos questão de não vender e de não cobrar", diz Eliana
Leonhardt, diretora de marketing do grupo francês SEB, detentor da Arno e da Panex. Os
cursos às vezes nem têm relação direta com os produtos. Dá
para aprender a receber, arrumar o armário, servir a mesa.
A coreana Samsung também
tem seu espaço de experimentação em São Paulo. Você fica o
tempo que quiser mexendo em
TVs, monitores, celulares, impressoras e outros gadgets. "O
consultor da loja não tem a
pressão de vender, nem o consumidor, de comprar. Tem que
ser assim para maximizar a experiência", diz Carlos Werner,
diretor de marketing da marca
no Brasil. Ele diz que a loja é
usada pelas pessoas na hora de
tomar a decisão de compra. Dali, vão para uma loja comum.
"Quem volta aqui com a nota
fiscal até leva um brinde", diz
Werner.
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