São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2009

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PEGUE-NÃO-PAGUE

A chamada "economia grátis" se espalha do mundo digital para o mercado real; a grande estratégia de marketing, agora, é tentar fisgar a sua atenção e conquistar a sua fidelidade oferecendo brindes, serviços gratuitos e lojas que aparentemente não vendem nada

DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Pagar está em baixa. Pagar caro, então, nem pensar. Além da crise, que tem desestimulado compras, a chamada "economia grátis" (ou "freeconomics", como cunhou a revista "Wired"), surgida na internet, está chegando ao mundo real.
Na rede, a maioria já se acostumou a usar serviços sem pôr a mão no bolso. Fora, formas de consumo grátis, ou "freesumerism" (como nomeou a consultoria de tendências The Future Lab), têm se disseminado, com a força dessa geração viciada em pegar sem pagar.
Operadoras de celular usam esse modelo, quando "dão" o celular ao consumidor, em troca da sua fidelidade a um contrato. É o tal subsídio cruzado.
Agora, na Inglaterra, uma operadora dá chip, minutos e mensagens SMS grátis a usuários, com a contrapartida de poder entupi-los de torpedos publicitários. É a Blyk, que se mantém por anúncios e alveja jovens de 18 a 24 anos.
A loja de móveis Ikea, presente na Europa e nos EUA, criou uma linha de balsa entre a ilha de Manhattan, em Nova York, e sua loja, no Brooklyn. Quem a usa não paga e nem precisa comprar na Ikea. "Serve para o consumidor gostar mais da marca", diz Paulo Al-Assal, diretor da Voltage, que representa o Future Lab aqui.
Há reedições da velha "amostra grátis". Na Inglaterra, o serviço Matter, dos correios, envia à casa de quem se cadastra no site uma caixa de novidades selecionadas, como produtos de beleza e DVDs. As primeiras foram enviadas no fim do ano e a ideia, segundo a Matter, é juntar produtos de acordo com o perfil de cada pessoa. O lucro viria em forma de publicidade boca-a-boca dos produtos.
Iniciativa semelhante vem do Japão. O Sample Lab, em Tóquio, cobra taxa anual de US$ 9 para que as pessoas levem novos produtos para casa, a título de experiência.
Esses modelos buscam burlar a pulverização da atenção dos consumidores, perdida pela internet. Segundo a teoria, dessa forma o alvo da mensagem fica concentrado e ela chega só a quem interessa.
No Brasil, a marca Arno tem "lojas" onde oferece cursos gratuitos e experimentação de produtos. A Viver Casa & Gourmet deixa à disposição de quem entra alimentos, roupas, xampus, tudo o que for necessário para testar um eletrodoméstico. Nada está à venda lá dentro. "Fazemos questão de não vender e de não cobrar", diz Eliana Leonhardt, diretora de marketing do grupo francês SEB, detentor da Arno e da Panex. Os cursos às vezes nem têm relação direta com os produtos. Dá para aprender a receber, arrumar o armário, servir a mesa.
A coreana Samsung também tem seu espaço de experimentação em São Paulo. Você fica o tempo que quiser mexendo em TVs, monitores, celulares, impressoras e outros gadgets. "O consultor da loja não tem a pressão de vender, nem o consumidor, de comprar. Tem que ser assim para maximizar a experiência", diz Carlos Werner, diretor de marketing da marca no Brasil. Ele diz que a loja é usada pelas pessoas na hora de tomar a decisão de compra. Dali, vão para uma loja comum. "Quem volta aqui com a nota fiscal até leva um brinde", diz Werner.


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