São Paulo, sábado, 17 de janeiro de 2009

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Bom é ser pão-duro

DA REPORTAGEM LOCAL

Todo consumidor sabe que não existe nada grátis.
Mas barato, é bom que haja.
O barato está na moda, e o consumo exibicionista está por fora. Essa tendência, que emergiu há alguns anos, e ganhou difusão a partir de 2007, já foi batizada de essencialismo, simplicidade, nova austeridade. Agora, reforçada pela crise global, veste "neofrugalismo".
O relatório de tendências da consultoria de mercado Mintel para 2009, por exemplo, afirma que o preço voltou a ser a principal preocupação dos consumidores na hora de comprar comida. Hábitos como cozinhar em casa e costurar estão de volta com tudo e abastecer a despensa em atacados não é vergonha para ninguém.
O mesmo vale para comprar roupas em lojas de departamentos, que já acostumaram o frequentador a buscar por lá linhas assinadas por estilistas de renome da indústria do luxo, como Stella McCartney ou Alexander McQueen.
Para Elizabeth Salmeirão, diretora de varejo da consultoria de mercado TNS InsterScience, o efeito psicológico da retração mundial tem consequências antes mesmo da chegada das contas no fim do mês. "Muita gente, mesmo sem saber o conteúdo da crise, sabe que ela existe. Há uma comoção, então ninguém vai sair gastando, especialmente em itens mais caros", diz.
Para Paulo Al-Assal, diretor da Voltage, a disponibilização de produtos e serviços gratuitos por parte das empresas e a demanda dos consumidores por gratuidade ou preços baixíssimos têm origens distintas. "Para a empresa, dar um serviço a mais, que não tem a ver diretamente com o ramo de atividade principal, é criar fidelidade, e não atender a essa exigência do consumidor por preço quase zero", diz.
Do ponto de vista de quem compra, no entanto, a percepção é de aumento da oferta de pechinchas e das oportunidades de economizar em quase tudo.
Um "pão-durismo" seletivo, hoje em dia, é considerado consumo consciente. "Hoje é visto como mais inteligente quem sabe gastar menos", diz Al-Assal.
A questão, para ele, é se os produtos que embarcarem cegamente na onda "free" não vão acabar desvalorizados. "Ao mesmo tempo em que o consumidor demanda mais coisas de graça, também teme que o de graça não seja o melhor." (DM)


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