São Paulo, sábado, 17 de maio de 2008

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

CONSUMO AMBIENTAL

A geladeira é moderna, com desenho arrojado? Ótimo, mas foi projetada para consumir menos energia?

A OPÇÃO POR UM desenvolvimento sustentável, ao contrário do que se possa imaginar, não está exclusivamente nas mãos dos governantes. Até porque, pesa mais na hora da decisão anunciar empreendimentos que geram empregos do que restrições ao desmatamento, por exemplo.
Quem sofre mais com o desequilíbrio ambiental somos nós, moradores das grandes e poluídas cidades deste pobre planeta. Enquanto as motosserras devastam as florestas tropicais, como a amazônica, ciclones e outras catástrofes se tornam corriqueiros no noticiário mundial.
Só há uma maneira de barrar a visão de que os recursos naturais são infinitamente renováveis: usar o poder de compra de cada um de nós, consumidores, para dar nítida preferência a produtos e serviços comprometidos com a preservação da vida, em detrimento daqueles, talvez mais baratos, mas produzidos pela soma de desrespeitos -ambiental e trabalhista, principalmente.
Ao retirar o cartão de crédito ou de débito da carteira, estamos exercendo um direito que movimenta o mundo. Quem compra entra, mesmo sem se dar conta, em uma cadeia de produção que começa nos chamados insumos, necessários para a fabricação de um produto ou prestação de um serviço.
A geladeira é moderna, com desenho arrojado? Ótimo, mas foi projetada para consumir menos energia? É necessário trocar o computador de casa, ou bastaria substituir o processador do micro?
A forma como se responde, na prática, a essas perguntas, pesa, e muito, na luta entre destruidores e preservadores do ambiente.
Proprietários de automóveis que não substituem o catalisador (aparelho que ajuda a reduzir a poluição) estão optando pelo ar sujo. Seus filhos, parentes e amigos, além deles próprios, vão pagar por isso.
Quem se informa sobre as condições em que foram produzidos aqueles eletroeletrônicos com preços imbatíveis pode evitar a compra de artigos fabricados por crianças. Ou por trabalhadores a um passo de se tornarem escravos ou servos.
Não somos inocentes espectadores de um programa sórdido que compromete o ar, a terra e as águas. Somos cúmplices.
Quando a maioria dos habitantes eleitores de um país apóia, incondicionalmente, políticas governamentais que ameaçam rios e florestas, os espaços de quem luta pela preservação ambiental são reduzidos.
E a fatura chegará, na forma de doenças broncopulmonares e de diversas outras que o ar seco e poluído ao menos agrava.
É óbvio que os governos detêm as canetas que assinam projetos e acordos com potencial para proteger ou destruir os recursos naturais.
Mas, ao fim e ao cabo, quem desautoriza uma ministra como Marina Silva não é o governo, incomodado com suas propostas e visão ambiental. Somos nós, ao consumir produtos e idéias que poluem e destroem o mundo. Pensemos nisso, antes da próxima compra.


http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br

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