São Paulo, sábado, 18 de abril de 2009

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MAS NÃO É SÓ ISSO

Se você ligar agora verá vendedores-artistas e loucos produtos que fazem o consumo na TV

Montagem sobre foto de Eduardo Knapp/Folha Imagem e Shutterstock


DA REPORTAGEM LOCAL DA REDAÇÃO

A advogada Maria Leifert comprou pela TV uma fonte de chocolate, seis sacos de guardar vestido, dois grills, máquinas de pipoca, de algodão doce e de pão, uma cadeira para abdominais e uma esteira. A tal fonte de chocolate, só usou uma vez. Passou adiante a esteira, após um ano parada. Maria, 49, não fez ginástica. Vai ver não precisou, já que também nunca ligou a máquina de fazer pão.
Consumo televisivo tem dessas: as novidades parecem ótima ideia quando surgem na tela. Em casa, vivem encostadas.
A compra pela TV ganhou audiência, no Brasil, nos anos 1990, quando a rede Manchete passou a transmitir os anúncios americanos (mal) dublados do Grupo Imagem. Os comerciais ficaram conhecidos como "1406", telefone usado para fazer as encomendas.
As ofertas de então eram invenções mágicas como a "indestrutível" meia-calça Vivarina -aquela capaz de guinchar carros e resistir a ataques felinos, segundo os comerciais.
Hoje, caminho aberto a facas Ginsu, eletrodomésticos e utensílios de cozinha dominam os canais de televendas, seguidos de perto por joias e tapetes.
A compra televisiva vai bem por aqui, a julgar pelo número de programas. As madrugadas consumistas animam cada vez mais canais. Só que não há números. As empresas que operam nessa área não quiseram mostrar os seus.
Nos EUA, um terço da população consumiu algo que viu nos canais de compras em 2007, segundo o livro "But Wait...There's More", ("Mas Espere...Tem Mais"), lançado no mês passado pelo jornalista americano Remy Stern. Esse mercado, lá, movimenta US$ 100 bilhões ao ano.
Avessa à compra pela internet, a dona de casa Rosa Campos, 58, pede joias por telefone, assistindo ao "Medalhão Persa" (Canal Rural) e ao "Mil e Uma Noites" (CNT). Os programas mostram colos, mãos e orelhas com joias, enquanto uma narradora descreve as peças.
Rosa diz que compra joias pela TV porque são 30% mais baratas do que no "mundo real". Compra e se diverte. "Melhor do que ver desgraça", diz.
A professora Maria Bezerra, 65, mais se diverte que compra. "Gosto dos apresentadores."
É essa aprovação que busca Ciro Bottini, 43, estrela do primeiro canal a cabo de televendas do país. Ele cria selos de qualidade para o que apresenta: o "dedão Bottini", por exemplo, indicaria uma boa compra.
Outra estrela do ramo é a apresentadora Viviane Romanelli, 46, que começou no Shoptime e hoje está no Best-ShopTV (passa na TV Gazeta). Vivi fez fama graças a um estilo estabanado -é o tipo que derruba a comida da panela anunciada. Ela diz gostar tanto da coisa que foi estudar gastronomia para melhorar as receitas, na hora de vender frigideiras e grills."Não abro mão de fazer ao vivo, fica mais natural."
A credibilidade dos vendedores é crucial para o sucesso desse filão, segundo Sérgio Santos, professor de marketing da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing). "Tem gente que assiste isso como se visse um amigo fazendo uma recomendação", afirma.
A complexidade dos eletrodomésticos também explica o diferencial desse formato. Na loja, o vendedor nem sempre passa ao cliente todas as funções do produto, ao passo que, na TV, qualquer coisa é descrita longamente, compara o professor da ESPM: "São apresentadas características, jeito de lavar, instalar... Isso faz o telespectador achar tudo fantástico e querer comprar "já".
(CHICO FELITTI e DÉBORA MISMETTI)


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