São Paulo, sábado, 19 de abril de 2008

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

SEM INTERNET NO PAÍS DE ALICE

A banda larga, que, em tese, oferece conexão mais veloz, é uma piada; os serviços relacionados ao acesso à internet são risíveis

ESCREVI ESTE artigo em um intervalo de minhas atividades diárias, porque estava sem conexão com a internet. Quando parei de receber e-mails e clicava inutilmente em um site de pesquisas, resolvi descobrir o que havia. A resposta da prestadora (?) de serviços: "Estamos em manutenção, das 11h às 15h". Maravilha, não? Manutenção em pleno horário de trabalho, em uma terça-feira?
Confesso que sempre me irrito quando leio números ufanistas sobre o número de internautas no Brasil, sobre o tempo que ficam conectados etc. A chamada banda larga, que, em tese, oferece uma conexão mais veloz, é uma piada. Os serviços todos relacionados ao acesso à internet são risíveis. O respeito para com os usuários, nós, não existe.
Se uma das medidas do desenvolvimento de um país for a tecnologia da informação, ao menos em um aspecto estamos mal: infra-estrutura. E não adianta trocar de fornecedor.
O interessante é que os gajos que exploram esses serviços não descontam as horas paradas no boleto mensal. Não explicam o que houve. Dão respostas arrevesadas quando cobramos o óbvio, ou seja, que a conexão funcione.
E ninguém cobra nada deles. Os provedores têm toda a liberdade de oferecer um serviço instável e nem sequer nos devem satisfações. Disse satisfações, não aquela do início do artigo ("manutenção" em dia útil, em horário de trabalho).
Toda vez que tentam me convencer de que o Brasil está uma maravilha, com crescimento sustentado e outras expressões vazias de sentido, eu me lembro de algo tão básico quanto enviar e receber e-mails, ou acessar sites de notícias e de busca.
Recentemente também tem faltado energia elétrica. As explicações são várias. Não convencem.
Toda vez que o Brasil cresce -não dois dígitos como a China, não mais de 8% ao ano, como alguns vizinhos, mas 5%-, os fantasmas voltam a passear à luz do dia: inflação, apagão e as malditas panes da banda larga.
Isso já aconteceu nos aeroportos, até que algum gênio percebeu que bastaria cancelar as promoções e cobrar passagens pelo topo do preço. Bingo! Acabaram-se as aglomerações de passageiros sem vôo.
A nossa infra-estrutura é claudicante. Não suporta crescimento em um país que tem de empregar mais de um milhão de jovens que chegam ao mercado de trabalho anualmente. Que ainda tem milhões de desempregados. Um país no qual a maioria da população sobrevive com até três salários mínimos.
Enquanto nada funciona direito, autoridades se chateiam porque o Peru atingiu o grau de investimento primeiro do que nós. O presidente faz campanha eleitoral ininterrupta. Outros elaboram dossiês ou anunciam, antes da hora, um megacampo de petróleo.
Ninguém parece ter tempo para assegurar que a energia elétrica, os transportes, a saúde e a conexão à internet funcionem adequadamente. Bom para o mosquito da dengue!


http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br

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