|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]
SEM INTERNET NO PAÍS DE ALICE
A banda larga, que, em tese, oferece conexão mais veloz, é uma piada; os serviços relacionados ao acesso à internet são risíveis
ESCREVI ESTE artigo em um intervalo de minhas atividades
diárias, porque estava sem conexão com a internet. Quando parei
de receber e-mails e clicava inutilmente em um site de pesquisas, resolvi descobrir o que havia. A resposta da prestadora (?) de serviços:
"Estamos em manutenção, das 11h
às 15h". Maravilha, não? Manutenção em pleno horário de trabalho,
em uma terça-feira?
Confesso que sempre me irrito
quando leio números ufanistas sobre o número de internautas no Brasil, sobre o tempo que ficam conectados etc. A chamada banda larga,
que, em tese, oferece uma conexão
mais veloz, é uma piada. Os serviços
todos relacionados ao acesso à internet são risíveis. O respeito para com
os usuários, nós, não existe.
Se uma das medidas do desenvolvimento de um país for a tecnologia
da informação, ao menos em um aspecto estamos mal: infra-estrutura.
E não adianta trocar de fornecedor.
O interessante é que os gajos que
exploram esses serviços não descontam as horas paradas no boleto
mensal. Não explicam o que houve.
Dão respostas arrevesadas quando
cobramos o óbvio, ou seja, que a conexão funcione.
E ninguém cobra nada deles. Os
provedores têm toda a liberdade de
oferecer um serviço instável e nem
sequer nos devem satisfações. Disse
satisfações, não aquela do início do
artigo ("manutenção" em dia útil,
em horário de trabalho).
Toda vez que tentam me convencer de que o Brasil está uma maravilha, com crescimento sustentado e
outras expressões vazias de sentido,
eu me lembro de algo tão básico
quanto enviar e receber e-mails, ou
acessar sites de notícias e de busca.
Recentemente também tem faltado energia elétrica. As explicações
são várias. Não convencem.
Toda vez que o Brasil cresce -não
dois dígitos como a China, não mais
de 8% ao ano, como alguns vizinhos,
mas 5%-, os fantasmas voltam a
passear à luz do dia: inflação, apagão
e as malditas panes da banda larga.
Isso já aconteceu nos aeroportos,
até que algum gênio percebeu que
bastaria cancelar as promoções e cobrar passagens pelo topo do preço.
Bingo! Acabaram-se as aglomerações de passageiros sem vôo.
A nossa infra-estrutura é claudicante. Não suporta crescimento em
um país que tem de empregar mais
de um milhão de jovens que chegam
ao mercado de trabalho anualmente. Que ainda tem milhões de desempregados. Um país no qual a
maioria da população sobrevive
com até três salários mínimos.
Enquanto nada funciona direito,
autoridades se chateiam porque o
Peru atingiu o grau de investimento
primeiro do que nós. O presidente
faz campanha eleitoral ininterrupta.
Outros elaboram dossiês ou anunciam, antes da hora, um megacampo
de petróleo.
Ninguém parece ter tempo para
assegurar que a energia elétrica, os
transportes, a saúde e a conexão à
internet funcionem adequadamente. Bom para o mosquito da dengue!
http://mariainesdolci.folha.blog.uol.com.br
Texto Anterior: Achados em São Paulo: A rua dos chefs Próximo Texto: Hippie de grife Índice
|