São Paulo, sábado, 20 de fevereiro de 2010

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Herança do recall


É uma vergonha que fabricantes de produtos com alta tecnologia e preço nada popular falhem tanto


O RECALL DEVERIA ser um instrumento para as exceções, quando um produto ameaçasse a segurança e a saúde do consumidor. Mas uma das maiores fabricantes mundiais de automóveis, a Toyota, acionou o recall para 8,5 milhões de veículos, até agora.
Um triste recorde, que subverte o princípio dessa convocação.
E como fica o proprietário de um carro usado que já foi alvo de recall, antes de sua aquisição? No mínimo, inseguro. E essa insegurança atinge os demais motoristas, passageiros e pedestres, que poderão sofrer as consequências dos problemas que originaram a medida.
O projeto de lei 6624/09, do deputado Carlos Bezerra (PMDB-MT), determina que o dono do carro, antes de vendê-lo, comprove ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran), no licenciamento, que o recall teve êxito. Outra exigência é que as montadoras informem ao Departamento Nacional de Trânsito os números dos chassis de todos os carros incluídos no recall.
O deputado alega que tem crescido o número de convocações para reparos em veículos. E que um terço dos convocados não faz os reparos.
Não vejo nenhuma razão para que esse projeto não seja aprovado com urgência, por acordo de lideranças, dada sua relevância social. Espero que tenha muito mais celeridade do que a inspeção veicular, que ficou congelada por vários anos. E que, desarquivada em São Paulo, foi parcialmente adotada e cobrada do consumidor.
É uma vergonha que fabricantes de produtos com alta tecnologia e preço nada popular falhem tanto. Nada justifica isso, mas os recalls automotivos se multiplicam.
Há erros e erros. No caso da Toyota, os problemas estão nos pedais do acelerador e do freio, ou seja, de altíssimo risco para todos dentro e fora do veículo.
Citamos o exemplo da montadora japonesa, mas não é exclusividade dela, obviamente, pois esse tipo de falha tem afetado muitos fabricantes. Como foram os casos de amputações provocadas por uma argola no banco traseiro do Fox, da Volkswagen.
Aliás, o recall da Toyota poderá atingir Peugeot, Citroën e GM, pois os pedais do acelerador de alguns modelos das três indústrias foram desenvolvidos em parceria com a montadora japonesa.
Dirigir já implica riscos provocados, na maioria dos casos, pelos abusos dos motoristas e pela má conservação de ruas e estradas. Há também erros de projeto na construção das vias e falhas de sinalização.
Que os fabricantes ajudem os consumidores a transitar com mais segurança, entregando veículos seguros, sem a necessidade de frequentes ajustes. É o mínimo que podemos esperar dos automóveis zero quilômetro. E dos veículos usados, se aprovado o projeto 6624/09.
Na era da alta tecnologia, há algo muito errado em tantas convocações para reparo de veículos.


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