São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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Quanto custa o inverno

Tecidos fi cam mais leves em função do aquecimento global, mas roupas da estação são sempre mais caras

EDITORA-ASSISTENTE DO VITRINE


Em qualquer lugar do mundo o vestuário de inverno é mais caro que o de verão, tudo bem. Mas por que, no Brasil, ele é tão mais caro? Se é que é.
Essa é a percepção de quem compra e vê, na vitrine, que um casaquinho de grife nacional (ninguém está falando de lã pura) dificilmente custa menos de três digítos em começo de estação -para não citar as peças que passam de R$ 1.000. Mas quem fabrica e vende argumenta que os preços das roupas de frio brasileiras não são assim tão estratosféricos.
Segundo Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Abit (Associação Brasileira de Indústria Têxtil e de Confecção), o Brasil tem moda inverno mais em conta que a Europa. Já em relação aos preços nos Estados Unidos, ele diz que não dá para comparar: "Não existe nenhum outro país com tanta competitividade no varejo. Os EUA são o maior mercado consumidor do mundo", justifica.
A roupa de inverno, em qualquer país, é mais cara porque exige mais tecido. Como os tecidos são vendidos por peso, custam mais. Alguns também são mais "inteligentes": esquentam mais sem que sejam mais pesados. "Tecido de inverno é mais caro. Se as cores são mais escuras, fica ainda mais caro. Se tem mais densidade de fios e da malha, custa mais a ser produzido", diz Pimentel.
O acabamento das peças, mais complexo, também encarece. "Roupa de inverno é mais forrada. É um segundo tecido, e tem o custo da mão-de-obra para forrar", diz Roberto Davidowicz, sócio da grife Uma.
Outro fator que ajuda a alavancar os preços das roupas é a curta duração do frio no país. Isso faz com que a estação seja encarada como "de risco" pelos comerciantes, segundo Pimentel. "Um encalhe de inverno é um perigo".

100% de lucro
Marcel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo, também diz que a irregularidade da estação no Brasil puxa os preços. Segundo ele, o medo de ficar com mercadoria em estoque faz com que alguns lojistas elevem a sua margem. "Produtos mais sofisticados têm margem de lucro de 100% no começo da estação. Nos mais massificados, a margem bruta é menor, cerca de 60%, e depois vai caindo", diz.
"Se for uma loja de shopping, o lojista coloca uma margem de pelo menos 100%, ou não consegue pagar os custos. Numa loja de rua, essa margem é de cerca de 85%. Mas não significa que o lojista tenha isso de lucro. Esse valor se perde entre impostos e custos. Muita gente tem enveredado para a importação, porque consegue partir de um preço inferior para tentar ter mais lucro", diz Ronald Masijah, presidente do Sindicato das Indústrias de Vestuário de São Paulo.
O discurso de quem trabalha de maneira direta ou indireta no setor de vestuário vincula uma eventual queda nos preços das roupas à redução de impostos. Hoje uma peça de roupa, em geral, tem 34,67% de impostos, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário. "Com a diminuição dos impostos haveria uma redução drástica de preços, e o consumo aumentaria", diz Masijah. "Nos EUA, por exemplo, não se taxa investimento. Aqui, sim", endossa Pimentel. (LM)


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