São Paulo, sábado, 21 de junho de 2008

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

MICOS DE PLÁSTICO

Lojistas oferecem "desconto" para quem paga em dinheiro ou cheque, para não pagar as taxas cobradas pelos cartões

OS CARTÕES DE CRÉDITO e de débito se popularizaram no Brasil. São práticos e facilitam certo controle de gastos, pois reúnem, em uma só fatura, a relação de gastos diversos. Indicam, também, quando as compras são parceladas, quantas vezes você ainda terá de arcar com aquele pagamento.
Os cartões de débito seriam um ovo de Colombo: fáceis de carregar, levam o dinheiro imediatamente para a conta de quem vendeu.
Mas as operadoras de cartões de crédito resolveram atirar nos próprios pés. Fazer roleta-russa com seus mercados.
Está se tornando comum, no comércio, que o lojista ofereça um "desconto" para quem pagar à vista (em dinheiro ou cheque). Tudo isso para não arcar com as taxas absurdas cobradas pelas administradoras do "dinheiro de plástico".
O preço diferente para pagamento com cartão é prática abusiva punida pelo Código de Defesa do Consumidor (CDC). Até o boleto bancário e o cheque, que pareciam fadados a definhar rumo à extinção, ganharam sobrevida com a política míope das administradoras. Na verdade, para ser mais exata, pela ganância dos bancos, que exigem taxas maiores das empresas de cartões de crédito para correr o risco da operação.
As operadoras pagaram aos bancos e arrocharam as lojas. Os lojistas chiaram e contra-atacaram, reduzindo o parcelamento sem juros no cartão, oferecendo descontos para pagamentos em boletos e cheques.
E o consumidor? Aí fica a parte mais fraca, onde a corda sempre arrebenta. Nós, consumidores, que não podemos nem sonhar em usar o crédito rotativo dos cartões (no qual incidem juros escorchantes e impagáveis), agora também temos um ou dois cartões, de bandeiras diversas, mas não temos crédito verdadeiro.
Em julho, o Brasil deve contar com 100 milhões de cartões de crédito. Mas outra liderança incomoda, e muito, principalmente para os consumidores: os cartões já provocam mais reclamações do que os serviços de telefonia nos órgãos de defesa do consumidor. Resultado do mau atendimento das administradoras, dos juros elevados e da dificuldade de calcular o valor das parcelas devidas.
As operadoras alegam que os aumentos de taxas para lojistas foram localizados e que se referem principalmente ao parcelamento sem juros. Também pretendem compartilhar a maquininha que lê os cartões (POS) para reduzir custos.
Que encontrem, mesmo, saídas que evitem o banimento dos cartões do comércio. Aproveitando essa boa disposição, por que não reduzem as taxas descomunais que cobram de seus clientes, quando, talvez por descuido ou masoquismo, financiam uma compra com juros?
Afinal, tratar o consumidor como cliente, com respeito e equilíbrio, não tem preço. As medidas para reduzir os danos ao consumidor têm de ser imediatas, porque a vida é agora. E ações como essas podem marcar época.
Caso contrário, bem, correm sério risco de se tornar micos de plástico.


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