São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RODOLFO LUCENA VAI ÀS COMPRAS
[colunista em campo]

OUTRA PEGADA

Colunista-maratonista compra tênis que quer mudar o seu jeito de pisar

RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA

As cores elétricas são a primeira coisa que se nota no tênis de corrida da Newton Running, jovem empresa norte-americana que quer concorrer com Nike, Adidas e Asics. Chegando perto, outros destaques são o design e o solado, que traz, na frente, dois conjuntos de quatro almofadinhas.
Por causa do solado e da membrana flexível usada nas almofadinhas, você pisa primeiro com a frente do pé, para só depois cair com o calcanhar e iniciar o processo de propulsão. O material empregado, diz a empresa, dá "maior absorção de impacto e propulsão", e a pisada iniciada na parte da frente torna mais eficiente a corrida. O que aumenta o desempenho e reduz o risco de lesões.
O modelo Gravity, para treinos, custa US$ 175, 45% mais que o Asics Nimbus 9, eleito o melhor tênis de corrida pela revista "Runner's World".
Curioso, comprei o tal tênis Gravity, pela internet (www.newtonrunning.com). Na pior das hipóteses, teria um tênis bacana para ir ao cinema, pagando menos do que é cobrado no Brasil por calçados medianos.
O modelo, apesar de ser "de amortecimento", pesa 289 gramas, contra 351 do Nimbus 9. O solado no calcanhar é pouco massudo: parece mais um tênis para pessoas magras em corridas curtas do que para sujeitos pesados em longos treinos.
O fato é que ele cumpre pelo menos parte da promessa. Já no primeiro treino, foi clara a mudança da passada: a frente do pé passou a bater primeiro no chão. Tive de ficar mais ereto. Supostamente, esse é o jeito natural. Há treinadores que defendem esse tipo de passada.
Claro que isso causou confusão em um sujeito habituado a aproveitar o acolchoado dos tênis e acertar o solo primeiro com a parte de trás do pé -como fazem, por sinal, 80% dos corredores de longa distância, segundo o estudo "The Biomechanics of Running", do Motion Analysis Laboratory da Universidade de Minnesota.
Nos dois primeiros treinos, sofri com dores nas panturrilhas, que ficam mais estendidas. Depois, acostumei -aliás, a empresa diz que o iniciante deve rodar uns 40 quilômetros para se adaptar à nova forma.
Até escrever este comentário, corri pouco mais de 60 quilômetros nas ruas de São Paulo e fiz 15 quilômetros de caminhadas. Em geral, foi confortável; senti o tal movimento na pisada e a mudança na biomecânica da corrida. Um inconveniente é a fôrma estreita: cede um pouco, mas incomoda.
Apesar da pouca borracha no calcanhar, não houve grande impacto, por causa da mudança da passada. Em ritmos mais fortes, porém, senti a batida. Como estou treinando para uma ultramaratona, preferi não fazer treinos de mais de 15 quilômetros no novo estilo.
Fica aqui uma sugestão para quem se interessar pelo tênis: procure experimentá-lo quando não estiver com um treinamento organizado para uma prova, pois as mudanças podem provocar desconforto.
Pois mudanças há, sem dúvida. Se ajudam no desempenho, é impossível avaliar só com base nos treinos que fiz.
Pela minha experiência, duvido. Mesmo que haja algum ganho, aposto que será insignificante no caso de atletas medianos, que correm uma maratona em ritmo de cinco ou seis minutos por quilômetro.
Neste ano a Newton planeja levar seus tênis às lojas. Por enquanto, as vendas são basicamente pela internet.


Texto Anterior: DÚVIDAS ÉTICAS: Como posso reciclar as lâmpadas fluorescentes do meu escritório?
Próximo Texto: Concorrente usa polêmica com entidade de atletismo dos EUA
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.