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RODOLFO LUCENA VAI ÀS COMPRAS
[colunista em campo]
OUTRA PEGADA
Colunista-maratonista compra tênis que quer mudar o seu jeito de pisar
RODOLFO LUCENA
EDITOR DE INFORMÁTICA
As cores elétricas são a primeira coisa que se nota no tênis
de corrida da Newton Running,
jovem empresa norte-americana que quer concorrer com Nike, Adidas e Asics. Chegando
perto, outros destaques são o
design e o solado, que traz, na
frente, dois conjuntos de quatro almofadinhas.
Por causa do solado e da
membrana flexível usada nas
almofadinhas, você pisa primeiro com a frente do pé, para
só depois cair com o calcanhar
e iniciar o processo de propulsão. O material empregado, diz
a empresa, dá "maior absorção
de impacto e propulsão", e a pisada iniciada na parte da frente
torna mais eficiente a corrida.
O que aumenta o desempenho
e reduz o risco de lesões.
O modelo Gravity, para treinos, custa US$ 175, 45% mais
que o Asics Nimbus 9, eleito o
melhor tênis de corrida pela revista "Runner's World".
Curioso, comprei o tal tênis
Gravity, pela internet
(www.newtonrunning.com).
Na pior das hipóteses, teria um
tênis bacana para ir ao cinema,
pagando menos do que é cobrado no Brasil por calçados medianos.
O modelo, apesar de ser "de
amortecimento", pesa 289 gramas, contra 351 do Nimbus 9. O
solado no calcanhar é pouco
massudo: parece mais um tênis
para pessoas magras em corridas curtas do que para sujeitos
pesados em longos treinos.
O fato é que ele cumpre pelo
menos parte da promessa. Já
no primeiro treino, foi clara a
mudança da passada: a frente
do pé passou a bater primeiro
no chão. Tive de ficar mais ereto. Supostamente, esse é o jeito
natural. Há treinadores que defendem esse tipo de passada.
Claro que isso causou confusão em um sujeito habituado a
aproveitar o acolchoado dos tênis e acertar o solo primeiro
com a parte de trás do pé -como fazem, por sinal, 80% dos
corredores de longa distância,
segundo o estudo "The Biomechanics of Running", do Motion Analysis Laboratory da
Universidade de Minnesota.
Nos dois primeiros treinos,
sofri com dores nas panturrilhas, que ficam mais estendidas. Depois, acostumei -aliás,
a empresa diz que o iniciante
deve rodar uns 40 quilômetros
para se adaptar à nova forma.
Até escrever este comentário, corri pouco mais de 60 quilômetros nas ruas de São Paulo
e fiz 15 quilômetros de caminhadas. Em geral, foi confortável; senti o tal movimento na
pisada e a mudança na biomecânica da corrida. Um inconveniente é a fôrma estreita: cede
um pouco, mas incomoda.
Apesar da pouca borracha no
calcanhar, não houve grande
impacto, por causa da mudança
da passada. Em ritmos mais
fortes, porém, senti a batida.
Como estou treinando para
uma ultramaratona, preferi
não fazer treinos de mais de 15
quilômetros no novo estilo.
Fica aqui uma sugestão para
quem se interessar pelo tênis:
procure experimentá-lo quando não estiver com um treinamento organizado para uma
prova, pois as mudanças podem provocar desconforto.
Pois mudanças há, sem dúvida. Se ajudam no desempenho,
é impossível avaliar só com base nos treinos que fiz.
Pela minha experiência, duvido. Mesmo que haja algum
ganho, aposto que será insignificante no caso de atletas medianos, que correm uma maratona em ritmo de cinco ou seis
minutos por quilômetro.
Neste ano a Newton planeja
levar seus tênis às lojas. Por enquanto, as vendas são basicamente pela internet.
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