São Paulo, sábado, 23 de maio de 2009

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

Governos verdes


Produto sem conservantes é mais caro. Mas a médio prazo a economia em remédio e hospital compensará


GOVERNOS SÃO GRANDES indutores de mudanças, de transformações, inclusive em países tidos como "neoliberais", como os Estados Unidos. Mas você sabe que em algumas situações essas mudanças não ocorrem, ainda mais em momentos de crise econômica, guerras e catástrofes ambientais, por causa de altos custos e problemas políticos.
Temos a chance de reduzir os danos que já causamos ao planeta desde que deixamos as cavernas em busca de apartamentos com duas vagas na garagem, perto de uma escola particular, de um supermercado e de um shopping.
Essa oportunidade é mudar a forma de consumo, a fim de preservar a vida, os recursos naturais.
Quem consegue dizer de cor- se você for ambientalista, não vale, pois é especialista- quais os principais selos e certificados ambientais de produtos? O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, egresso do movimento ambiental, poderia, então, propor a criação de um macrosselo, ou algo assim, do ministério, que servisse como guarda-chuva para os demais. Ao identificá-lo em um produto ou serviço, saberíamos, imediatamente, estar aquilo de acordo com as melhores normas ambientais.
Da mesma forma, os governos em todos os níveis deveriam impor o uso de combustíveis menos poluentes nas frotas públicas, como o diesel S-50, que já está chegando a algumas capitais brasileiras, segundo cronograma aprovado pelo Ministério Público Federal.
É péssima propaganda para o Brasil, produtor de biocombustíveis, a poluição das ruas de São Paulo, principalmente no outono e no inverno, as estações mais secas do ano. Se cada prefeitura forçar a migração para combustíveis mais limpos dos coletivos municipais e dos demais veículos usados por suas secretarias e repartições, haverá já um grande avanço.
A exigência de ingredientes orgânicos na merenda escolar, reduzindo assim o uso de agrotóxicos e aditivos na alimentação infanto-juvenil, teria também um impacto tremendo na criação de uma economia de escala.
O verde dos governos não pode se resumir aos símbolos nacionais. Deveria ser uma profissão de fé, um compromisso com a qualidade de vida, com a saúde, com a preservação ambiental.
O consumidor pode e deve fazer sua parte, mas fica difícil decifrar as certificações em cada produto ou serviço. Isso tem um custo, pois, inicialmente, um produto sem conservantes é mais caro. A médio e longo prazo, a economia em consultas, exames, remédios e hospitais compensará o investimento.
Os planos de saúde e a Agência Nacional de Saúde Suplementar deveriam prever benefícios adicionais para aqueles que comprovassem o consumo de alimentos saudáveis, além das práticas de exercícios e dos check-ups anuais.
São ideias para melhorar uma situação que, além de apontar para um futuro terrível, já antecipado pelas secas na região Sul e as enchentes no Nordeste, majora os custos do Sistema Único de Saúde. Vamos pressionar os ilustres parlamentares e governantes em prol dessas medidas?


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