Casa no centro de SP vende rótulos de ótima procedência

O principal item à venda é a qualidade, mas, ali, para variar, ela não rima com esnobismo

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O Le Tire Bouchon é um lugar à parte, localizado em Santa Cecília que, com seus edifícios da década de 30 e seu charme "vida real", não deixa de ser outro.
Para quem consegue achá-la, a casa é só simpatia: um manobrista se oferece para estacionar o carro e um funcionário com PhD em abordagem vai explicando os serviços que foram se agregando ao sortimento de ótima procedência. Como o bar onde se pode experimentar vinhos e pedir uma coisinha para acompanhar; o jantar com menu fixo semanal e sugestão de bebidas que combinam; a gôndola gourmet; as cestas para presentes; os cursos; e até roteiros por vinícolas francesas, para quem está a fim de ir comer, beber, viver em outro continente.
Para apreciar plenamente a sofisticação da oferta, talvez você precise ser desses caras que entendem o efeito de cada grau de temperatura no sabor do vinho, além do significado de termos como "alegação" e "norma".
A casa vende 68 rótulos, parte importada com exclusividade de regiões francesas como o vale do Ródano, a Provença e a Córsega; e mantém umas tantas garrafas em adegas refrigeradas, à espera do "dono" em condições perfeitas para o consumo. Mas, para se sentir bem lá dentro e encontrar um vinho melhor do que a média para experimentar -ou o último grito em custo/benefício para animar sua festa- não é preciso ser do clube.
Deve ser o serviço, com gente que parece entender mesmo de vinho e que se dispõe, com igual boa vontade, a explicar tudo desde o começo ou apenas a indicar a melhor opção em uma dada faixa de preço. Ou o formato de galpão, com prateleiras altas repletas de caixas empilhadas, que compensa o ar metido dos compartimentos "climatizados". O fato é que há algo de desafetado no lugar que faz toda a diferença.
Dos vinhos às brusquetas, dos chocolates, chás e azeites ao atendimento, da intensidade da iluminação ao volume da ótima música ambiente - nem tão alta que atrapalhe, nem tão baixa que não se aproveite -, a qualidade é o principal item à venda. Mas aqui, para variar, ela não rima com esnobismo e nem se confunde com marca de distinção social. Embora, naturalmente, tenha lá seu preço.