São Paulo, sábado, 26 de janeiro de 2008

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BAGAGEM
[compras mundo afora]

LEMBRANÇA COM GOSTO DE LISBOA

Loja de conservas tem charme velho e delícias fáceis de levar na mala

Miguel Ribeiro Fernandes/Folha Imagem/Portugal
Hoje como ontem: Maria de Jesus, na loja fundada em 1930


IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Um drama recorrente de quem viaja ao exterior é definir o que trazer de lembrança, seja para si ou para quem ficou em casa. Algo que ao mesmo tempo forneça um instantâneo de onde esteve e não seja um estorvo na hora de embarcar -com as crescentes restrições pós-11 de Setembro, em breve teremos que entrar pelados no avião.
Eu, que já penei carregando um narguilé tamanho GG do interior da Tunísia até Madri e passei por sacoleiro de quinquilharias orientais voando de Katmandu a Praga, achei minha meca das lembranças numa ruazinha quieta ao pé da Alfama, o coração espiritual da antiga Lisboa. Lá, no número 34 da rua dos Bacalhoeiros, está a Conserveira de Lisboa.
OK, posso estar exagerando, e o serviço é tipicamente português: lento e mau-humorado. Mas onde mais você consegue comprar, empacotada em latas facilmente acomodáveis na bagagem de mão, a "raison d'être" de um lugar? Porque Portugal é seu charme decadente, sua comida, seus azeites, seus temperos, seus frutos do mar. É outras coisas, sim, mas tudo isso está lá, à mão nas prateleiras de farmácia antiga da conserveira.
Há enlatados em qualquer supermercado. Mas os detalhes colocam a conserveira à parte. As latas são embaladas com rótulos vintage anos 50. Uma a uma, por um par de octagenárias, Maria de Jesus e Maria Manuela, ambas há mais de 40 anos sentadas atrás do balcão da loja -que abriu em 1930. Até dois anos atrás, trabalhavam sozinhas. Agora, têm a ajuda de dois empregados brasileiros, Eleno e Jefferson, mas o clima de comércio artesanal parado no tempo continua o mesmo.
Sob as marcas Tricana, Prata do Mar e Minor, há conservas com tomate, com azeite e com ambos. E aquelas com a forte pimenta portuguesa conhecida como "piri-piri" (assim descrito no rótulo toscamente bilíngue, onde "tuna fish" vem com "sal" e não "salt").
Nas latas, tudo o que você pode imaginar: sardinhas, atum, bacalhau, ovas, cavalinha, carapaus e, quando "é época", como diria dona Maria de Jesus, polvo, lula, mexilhões e afins. Os preços, acessíveis como quase tudo em Lisboa, vão de 0,79 euro por uma lata de sardinha no azeite a 4,50 euros por outra recheada de ovas de peixe.
Não tem mãe, amigo metido a gourmet ou amante de Portugal que resista.

ONDE ENCONTRAR


Conserveira de Lisboa, r. dos Bacalhoeiros, 34, tel. (351) 21-8871058, Lisboa


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