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BAGAGEM
[compras mundo afora]
LEMBRANÇA COM GOSTO DE LISBOA
Loja de conservas tem charme velho e delícias fáceis de levar na mala
Miguel Ribeiro Fernandes/Folha Imagem/Portugal
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Hoje como ontem: Maria de Jesus, na loja fundada em 1930 |
IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um drama recorrente de
quem viaja ao exterior é definir
o que trazer de lembrança, seja
para si ou para quem ficou em
casa. Algo que ao mesmo tempo
forneça um instantâneo de onde esteve e não seja um estorvo
na hora de embarcar -com as
crescentes restrições pós-11 de
Setembro, em breve teremos
que entrar pelados no avião.
Eu, que já penei carregando
um narguilé tamanho GG do
interior da Tunísia até Madri e
passei por sacoleiro de quinquilharias orientais voando de
Katmandu a Praga, achei minha meca das lembranças numa ruazinha quieta ao pé da Alfama, o coração espiritual da
antiga Lisboa. Lá, no número
34 da rua dos Bacalhoeiros, está
a Conserveira de Lisboa.
OK, posso estar exagerando,
e o serviço é tipicamente português: lento e mau-humorado.
Mas onde mais você consegue
comprar, empacotada em latas
facilmente acomodáveis na bagagem de mão, a "raison d'être"
de um lugar? Porque Portugal é
seu charme decadente, sua comida, seus azeites, seus temperos, seus frutos do mar. É outras coisas, sim, mas tudo isso
está lá, à mão nas prateleiras de
farmácia antiga da conserveira.
Há enlatados em qualquer
supermercado. Mas os detalhes
colocam a conserveira à parte.
As latas são embaladas com rótulos vintage anos 50. Uma a
uma, por um par de octagenárias, Maria de Jesus e Maria
Manuela, ambas há mais de 40
anos sentadas atrás do balcão
da loja -que abriu em 1930. Até
dois anos atrás, trabalhavam
sozinhas. Agora, têm a ajuda de
dois empregados brasileiros,
Eleno e Jefferson, mas o clima
de comércio artesanal parado
no tempo continua o mesmo.
Sob as marcas Tricana, Prata
do Mar e Minor, há conservas
com tomate, com azeite e com
ambos. E aquelas com a forte
pimenta portuguesa conhecida
como "piri-piri" (assim descrito no rótulo toscamente bilíngue, onde "tuna fish" vem com
"sal" e não "salt").
Nas latas, tudo o que você pode imaginar: sardinhas, atum,
bacalhau, ovas, cavalinha, carapaus e, quando "é época", como
diria dona Maria de Jesus, polvo, lula, mexilhões e afins. Os
preços, acessíveis como quase
tudo em Lisboa, vão de 0,79 euro por uma lata de sardinha no
azeite a 4,50 euros por outra recheada de ovas de peixe.
Não tem mãe, amigo metido
a gourmet ou amante de Portugal que resista.
ONDE ENCONTRAR
Conserveira de Lisboa,
r. dos Bacalhoeiros, 34,
tel. (351) 21-8871058, Lisboa
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