VINHOS E ADJETIVOS

Bebida agora é separada em categorias "sensoriais"

TETÉ MARTINHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

O lugar é improvável e o layout, mais ainda. Plantada no meio de um quarteirão particularmente calmo da Itapicuru, rua residencial nas Perdizes, a Vintage Express atrai quem passa na calçada com a visão de duas paredes cobertas de garrafas de vinho, deitadas em displays especiais que reforçam o apelo dos rótulos e as cores dos líquidos lá dentro. Não parece uma adega, mas uma loja Chilli Beans dos vinhos.
Não que não seja convidativa. Pelo contrário. Tanto que, nas primeiras duas semanas, mais de 400 passantes entraram para conferir. Dentro, descobriram que as garrafas em exposição são mais de cem, e que se distribuem por seis displays, cada um designado por um adjetivo: "poéticos", "descolados", "elegantes", "alegres", "inusitados" e assim por diante.
A separação dos vinhos por "estilos de paladar", que se opõe aos arranjos tradicionais por tipo de uva ou origem, é fundamento da loja, criada em Brasília há oito anos. Segundo um vendedor desafetado e gentil, as categorias "sensoriais" servem para facilitar o acesso ao complexo mundo dos vinhos por parte daquele mortal que vai à loja em busca de combustível para uma noite feliz e não de um lugar para testar ou expandir seu conhecimento enciclopédico sobre o assunto.
Deixando a eficácia do método, é de se louvar uma loja de vinho construída na deriva da enochatice. Também é bacana a ênfase em vinhos menos comuns no mercado brasileiro, vindos da Europa, África, América do Sul, Estados Unidos e Oceania. Mais do que tudo, o consumidor agradece o foco na relação custo/ benefício: embora os vinhos cheguem a R$ 1.000, a maioria cai na faixa de R$ 40 a R$ 80.
As categorias são um tanto subjetivas, à exceção das mais óbvias: vinhos "inusitados" são os que vêm de regiões pouco conhecidas, ou feitos de uvas idem; "descolados", produto das vinícolas mais modernas. Mais eficientes são as legendas afixadas sob cada vinho, com informações sobre uva e origem, dicas de conservação e pratos que combinam.
Mais uma bem-vinda deferência aos sem paciência, as fichas servem, segundo o vendedor, para quem "não quer conversar". Aos demais, a loja oferece pessoal com disposição infinita para o assunto, além de degustações e cursos.

ONDE ENCONTRAR