São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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Belo Horizonte

Os endereços preferidos de Ronaldo Fraga

O roteiro de compras do estilista tem lugares cheios de história e charme, que valem a visita por si só

THIAGO GUIMARÃES
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Desde seu primeiro desfile na semana de moda paulista, a São Paulo Fashion Week, em 2001, Ronaldo Fraga resiste a convites para deixar Belo Horizonte, sua cidade natal, rumo ao eixo Rio-São Paulo. A opção pelo "jeitinho mineiro" também marca o caminho das compras do estilista em BH.
Do livreiro que sabe o gosto de cada cliente ao antiquário que se recusa a vender suas peças, comprar na capital mineira é, para Fraga, 40, mais do que trocar produtos por dinheiro. Envolve lugares dos quais sair de mãos vazias é só um detalhe, pois já valem a visita.
O roteiro começa na Livraria e Café Quixote, na Savassi, centro nervoso do comércio e da vida noturna da cidade. Ali o tutor de Fraga é o livreiro Carlos Cunha, 45. "Ele sabe preferências, pesquisa títulos, te liga."
Na contramão das megastores do ramo, a loja de 70 metros quadrados e mesas na calçada promove, aos sábados, lançamentos de livros movidos a cerveja e bolinhos de feijão. "Uma das poucas coisas que me tiram de casa no sábado."
A 200 metros dali, uma parada na Celma Albuquerque. A galeria, referência em arte contemporânea na cidade, é gerenciada há 21 anos pela família que dá nome ao local. Abriga cinco exposições por ano e obras que podem ir de R$ 500 a mais de R$ 12 mil, como os da paulista Leda Catunda. "É um acervo fantástico, com artistas de fora e mineiros", diz Fraga.
Ainda no circuito de arte, uma escala em um casarão tombado de 1919. A construção em estilo neoclássico, toda reformada, é a sede da galeria Carminha Macedo. "Vir aqui é uma experiência", diz ele, que costuma visitar o lugar com os filhos de seis e quatro anos. Entre as obras à venda, os bonecos do grafiteiro Toz saem a R$ 350 cada um.
O trajeto do estilista por Belo Horizonte passa ainda pelo bar Outono 81, iniciativa do casal João Grillo, 50, e Dulce Ribeiro, 41. Nas noites de quinta-feira, a garagem da loja de revestimentos de Grillo e da importadora de vinhos de Ribeiro, que funcionam no mesmo endereço, transforma-se em um balcão de degustação de vinhos, com capacidade para 45 pessoas.
A seleção semanal de quatro taças de vinhos diferentes do Outono 81 custa entre R$ 20 e R$ 30. No menu, sanduíche de lingüiça com chutney de cebola (R$ 16) e arroz de pato (R$ 35). Para o mineiro dos óculos de aro preto, a idéia é mais uma forma de fugir do trato impessoal do consumo globalizado.

Casarão anos 20 guarda mil relíquias

É um antiquário, mas poderia cobrar ingresso e virar museu. O elogio é recorrente para Gigi Reis, 48, dona do Velho Armazém Itapecerica, outra parada no roteiro da BH de Fraga. Apaixonada por objetos antigos, ela reformou por seis meses um casarão da década de 20 que abriga sua coleção de mais de mil itens. Os cômodos do casarão são temáticos. Há uma réplica de armazém do início do século passado, com balanças, gamelas, tuia de cereais, filtro Fiel e uma bicicleta inglesa. No quarto de música há rádios nas paredes, acordeons, radiolas, piano e violino.
A sala de profissões traz cadeiras completas de dentista e barbeiro. "Ela cuida das peças como se fossem da casa dela", diz Fraga. E cuida tanto que alguns itens ela nem sequer vende, como um realejo alemão do século 19. Em outros casos, um pouco de insistência ajuda. "Sou a maior consumidora do que vendo", afirma Gigi.

Portas e janelas de outros tempos

Quando se mudou, em 2004, para um casarão de 1930 à beira da linha do metrô de Belo Horizonte, Ronaldo Fraga não imaginou que as portas, corrimãos e grades, em estado crítico, pudessem ser recuperadas. Nem sonhava em conseguir janelas originais para a casa em que vive com a mulher, Ivana, e os filhos Ludovico e Graciliano. Quem o ajudou a cumprir a tarefa foi o Lisboa, ou Antônio Lisboa de Matos, 66, dono da empresa de demolições e restauração de mesmo nome. Em seu terreno de 6.000 metros quadrados na zona norte de BH, hoje menina-dos-olhos de arquitetos e decoradores da cidade, Lisboa tinha material de uma casa da mesma época e que acabara de ser demolida.
No labirinto de janelas, portas, pisos e telhas que é a loja, dá para achar grades francesas de 300 anos, mesas de fazer queijo do início do século e uma porta em bálsamo e canela-sassafrás, que Lisboa raspa para o cliente sentir o cheiro da madeira. Madeiras nobres e raras saem por R$ 90 o metro quadrado, no caso da peroba-de-Campos, e R$ 12 mil o metro cúbico, para o pinho-de-riga. E por R$ 30, Fraga ainda saiu com outro presente para casa: um azulejo de casa em estilo holandês de 1918, e uma placa art déco de metal, essa última cortesia do Lisboa.


onde encontrar
CELMA ALBUQUERQUE GALERIA DE ARTE
r. Antônio de Albuquerque, 885,
tel. (31) 3227-6494

GALERIA CARMINHA MACEDO
r. Bernardo Guimarães, 1.200,
tel. (31) 3227-6494.

LISBOA DEMOLIÇÕES
av. Waldomiro Lobo, 2020,
tel. (31) 3494-6240

QUIXOTE LIVRARIA
r. Fernandes Tourinho, 274,
tel. (31) 3264-2858

VELHO ARMAZÉM ITAPECERICA
r. Itapecerica, 613,
tel. (31) 3428-0029

TERRA TILE REVESTIMENTOS/OUTONO 81 BAR DE VINHOS
r. Outono, 81,
tel. (31) 3286-4650


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