São Paulo, sábado, 27 de dezembro de 2008

Próximo Texto | Índice

Luxo líquido




DA REDAÇÃO

Uma garrafinha d'água foi leiloada, em Dubai, por US$ 23 mil. Parece bizarro, e é. Acontece que o leilão de míseros 750 ml do recurso vital tem mais a ver com o futuro próximo e com a realidade do planeta do que aquela cena, ainda comum em cidades brasileiras: alguém de mangueira na mão, lavando a calçada. É bem mais bizarro.
Todos sabem que aquele rol de medidas simples (acelerar o banho, regular a torneira etc.), mais repetidas do que praticadas, pode ajudar a reduzir o desperdício. São cuidados urgentes hoje, no mundo, e agora, no Brasil, quando o verão costuma aumentar bastante o consumo do líquido luxuoso.
E ponha luxuoso nisso. O contraponto mercadológico para essa maior compreensão de que água é um bem finito é a sofisticação cada vez maior do produto-água. Com mais "valor agregado", a água não escapará da ritualização sem fim que pegou e pega tantas outras coisas até pouco tempo simples, por exemplo o cafezinho.
Não basta ser água: tem que ser importada, perfumada, saída das geleiras do Himalaia, saborizada, engarrafada em vidro criado pelo estilista da vez...
"O que se pode prever é um desenvolvimento crescente do market share das águas entre as bebidas. Os números mostram que o consumo de refrigerantes continua a cair nos EUA e na Europa. O Brasil é iniciante na diversificação de "derivados" da água, se olharmos o que acontece no mercado global", diz o sociólogo Dario Caldas, da consultoria de tendências Observatório de Sinais -segundo quem a água foi o líquido que mais subiu de preço nos últimos anos, mais que o petróleo.
Nas projeções para 2009, o birô destaca a tendência crescente de produtos posicionados como "comfort drinks", emocionais, aqueles "que vendem um estado de alma", como diz Caldas. Não se espante, porque a água com "florais de Bach" já chegou ao supermercado. Já aquela pura e simples, potável, escasseia a olhos nus.



Até 2025, o consumo de água deve crescer 50% nos países em desenvolvimento e 18% nos desenvolvidos



Para um consumo mais elegante

>> Ao usar barbeador elétrico, você economiza até 80 litros de água

>> Em oito minutos de uso, um chuveiro elétrico gasta 24 litros, e uma ducha a gás, 160 litros.
Mas, com restritor de vazão instalado, o consumo da ducha a gás cai para 64 litros

>> Lavar um carro com mangueira desperdiça quase 600 litros de água. Em um lava-rápido, o consumo cai para 100 litros.
Com um balde e um pano, gastam- se apenas 40 litros

>> Quem lava louça manualmente por 15 minutos gasta cinco vezes mais água que uma lava-louças cheia. A máquina precisa de 40 litros de água. Mas, quando você retira os restos de comida e ensaboa toda a louça manualmente antes de enxaguar, gasta apenas cerca de 20 litros de água

>> O arejador, peça que mistura o ar à água quando é instalada na torneira, pode reduzir o consumo em até 76%

>> No banheiro, uma descarga com dois níveis de vazão economiza até 60% de água

Fontes: Sabesp e Roca


É a vida

>> Apenas 2,5% da água do planeta é doce. Desse total, 70%

está em geleiras de montanhas >> Cerca de 70% da água doce do mundo é destinada para a irrigação, 22% para a indústria e 8% para uso doméstico

>> Para atender à demanda diária de uma pessoa (beber, cozinhar, limpar), são necessários de 20 a 50 litros de água. 894 milhões de pessoas não têm acesso a essa quantidade

>> O Brasil tem disponibilidade abundante de água por habitante (35 mil m3). Mas a região metropolitana de São Paulo tem uma disponibilidade hídrica anual classifi cada como crítica (200 m3 per capita), que corresponde a 10% da considerada ideal pela ONU

Fontes: Programa Ambiental das Nações Unidas, Programa Mundial de Avaliação de Água, ONU, Sabesp


Próximo Texto: Brasileiro tem resistência maior a beber água de torneira
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.