São Paulo, sábado, 28 de junho de 2008

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Pelos labirintos do consumo

Arquiteto visitou 4 shoppings de SP, analisando os espaços e a comunicação visual; veja o que difi culta a orientação dos visitantes

DÉBORA MISMETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os shoppings são lugares perfeitos para as pessoas se sentirem perdidas, especialmente quando estão à procura "daquela" loja em meio a centenas de outras. Não é difícil andar em círculos, procurando a saída para o labirinto.
A Folha escolheu quatro shoppings com estilos e estruturas diferentes em São Paulo, para testar a eficiência da sinalização e comparar as condições de circulação das pessoas.
A reportagem convidou o arquiteto Carlos Faggin, professor de arquitetura da USP, que já fez projetos para a construção e reforma de shoppings, para visitar Iguatemi, Interlagos, Morumbi e Pátio Higienópolis.
Os shoppings são projetados para estimular o consumo, por isso não seguem a lógica de um espaço público comum. Faggin conta já ter ouvido de um proprietário de shopping que os corredores deveriam ser organizados de forma labiríntica, para que o consumidor não conseguisse sair e, no desespero, comprasse alguma coisa. "O problema é que quando a pessoa sai, não quer mais voltar".
Para o arquiteto Marco Donini, esse tipo de "armadilha", com traçados complicados e revestimentos confusos, pode ter conseqüências para o sucesso do shopping. "O Eldorado é um exemplo. Ele tentou se adaptar posteriormente, mas as pessoas pararam de freqüentá-lo logo no início. Isso o ajudou a se tornar mais popular do que se pretendia" diz.
Nem todos os shoppings são labirínticos, mas há sutilezas notáveis. Em muitos, os elevadores ficam em corredores secundários, longe do centro de circulação. "Dentro deles, você não vê as lojas. A circulação por escadas rolantes é sempre facilitada, e a por elevador é dificultada", diz Faggin.
A sinalização básica, de saídas de emergência e hidrantes, é seguida. No entanto, as placas são sempre as mais discretas possíveis. "Os lojistas não devem gostar de interferências na sinalização de suas fachadas", diz. Para Donini, a sinalização deveria ser mais presente e menos "chique". "Ela passa despercebida em meio ao caos interno de sinalização das lojas. Tenho visto em shoppings populares, como o Itaquera, exemplos mais acertados de acabamento, iluminação e comunicação interna", diz.
A distribuição das lojas também é pensada para estimular a circulação dos visitantes por todas as partes e evitar andares ou regiões "mortas". Faggin explica que as lojas-âncoras, que atraem mais pessoas, são posicionadas em pontos extremos, para que o consumidor passe por mais corredores.
Outra estratégia, cada vez mais comum, é a de aproximar a aparência interior dos shoppings com a das ruas. Quando foram criados, os shoppings eram um refúgio contra o caos da cidade e as imprevisibilidades a que se está sujeito na rua. Agora, shoppings como o Morumbi fazem reformas para a criação de mais aberturas de luz natural e de "pracinhas" com bancos e plantas. "O shopping é uma cidade "fake" (falsa, em inglês), um mundo ingênuo", diz Faggin.


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