O Mercado da Lapa mantém o clima cordial do velho comércio de rua

Leo Caobelli/Folha Imagem

O Mercado Municipal da Lapa, na zona oeste, inaugurado em 1954

LOURDES NASSIF
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

A primeira impressão que o Mercado da Lapa passa é a de abandono. O prédio dos anos 50 está com a pintura vencida há tempos, precisa de manutenção, restauro. Mas você esquece isso ao entrar naquele mundo. Vale o conteúdo.
Um mercado municipal tem qualidades que os supermercados não conseguiram absorver: favorece o contato humano, a troca. Dá para conversar com comerciantes, receber dicas, ouvir histórias do bairro. Tem gente que está ali desde a inauguração, em 1954.
No box 36 da rua 2, por exemplo, fitoterápicos que não precisam de receita médica, suplementos alimentares e alimentos funcionais, como fibras e farelos, são oferecidos pela própria dona, que gosta de ajudar o consumidor a escolher o produto certo para suas necessidades. Tem quinua real, fonte de proteínas sem colesterol; comprimidos de lêvedo, linhaça etc.
Ao lado, no box 32, fica o Rei dos Temperos, cuja profusão de ofertas enlouquece quem adora cozinhar: tempero sírio, tahine, segurelha, funghi secchi, pinole, vinagrete desidratado e mais o que você imaginar, além de azeites e chás.
O que chama a atenção é o colorido das pimentas em conserva. Um vidro sai na faixa de R$ 10. Mas a boa surpresa foi o preço do legítimo açafrão em fios, normalmente vendido a peso de ouro: R$ 14 a embalagem com meio grama.
Mais à frente, o box 9, vinculado à Associação Promotora de Instrução e Trabalho para Cegos, está ali desde a fundação do mercado. Vende produtos confeccionados na associação, como vassouras, sacolas de náilon e tapetes de crochê, tudo a ótimos preços.
O box 11, na rua 1, é o quebra-galho da cozinha. Tem panelas, louças, facas, tachos de cobre, alguidar, moringa. Uma panela capixaba, de pedra preta, sai por R$ 27,50, e a panela mineira de pedra, grande, sai por R$ 62,50. Fora isso, muita prosa por ali. A família De Carra, dona do box, está há 53 anos no Mercado da Lapa e as histórias ali são muitas, contadas por Eduardo, neto do fundador, o senhor Liberato.
Para encerrar o passeio no mercado, uma passada na Tabacaria Falabella, no box 6 da rua 1. O pequeno espaço, além de oferecer o arroz com feijão de tabacarias, como fumo de corda, cigarrilhas, facas e canivetes, tem uma parte dedicada aos narguilés. Os preços variam de R$ 50, para o míni, a R$ 530 pelo grande, com quatro saídas e giratório. Ainda há fumos de vários sabores e carvões para usar nessas peças. Entre tantas opções de isqueiros, vale destacar a binga ou isqueiro austríaco, famoso entre os "boys" de áureos tempos.
Na hora da fome, não dá para deixar de lado a Pastelaria Mercadão, no box 40. Prepare-se para encarar a dúvida entre o pastel de queijo-coalho e o de carne-seca com requeijão, montados na hora. E já que vai enfiar o pé na jaca, não se esqueça do caldo de cana.