São Paulo, sábado, 30 de janeiro de 2010

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MARIA INÊS DOLCI [defesa do consumidor]

O cartel dos livros didáticos


O nível do ensino não melhora, mas os custos vão à lua, como em uma piada de péssimo gosto


TABELAS de preços parecem antiguidades, como polainas, galochas e bondes. Afinal, a inflação anual é inferior à de uma semana em tempos não tão distantes. Vivemos em uma economia mais dinâmica, que deveria contar com livre concorrência.
Deveria. Em diversas cidades brasileiras, as diferenças entre os preços dos combustíveis é de centavos, nada além disso. Há um tabelamento descarado, que algumas vezes é combatido pelo Ministério Público. Depois, volta o acordo de preços.
Trato do tema porque um amigo ficou irritado ao perceber que os livros didáticos também não variam de preço. Assustado com a conta salgada, em torno de R$ 100 para cada livro do ensino médio, resolveu pesquisar em livrarias e sites das editoras. Constatou que não havia diferença alguma, nem nos centavos.
Isso é um absurdo, pois, certamente, encarece os livros didáticos. Ninguém faz acordos como esse para baixar preços.
É um cartel, mais um, para pesar no bolso do consumidor brasileiro. Que, em São Paulo, já foi brindado com um aumento estapafúrdio do IPTU, enquanto os carros boiam nas ruas, as águas invadem as casas e as enchentes transtornam o dia a dia de todos nós.
Não podemos aceitar que a educação, já caríssima, sofra mais este atentado. Não bastam as mensalidades das escolas particulares, reajustadas anualmente bem acima da inflação? Nem as exigências absurdas nas listas de material escolar, que incluem até obrigações das escolas, como papel higiênico e copos plásticos?
Volto a uma ideia antiga: a criação de uma agência nacional de educação, a exemplo do que já ocorre na área de saúde suplementar. Para coibir os abusos nos reajustes dos boletos das escolas particulares, para evitar a formação de cartéis, como os dos livros didáticos etc.
Há muito desrespeito na área de educação porque fornecedores de produtos e de serviços sabem que os pais farão de tudo para que os filhos tenham o melhor, aumentando suas chances no mercado de trabalho, no futuro. Instituições de ensino abusam nos preços, pois é muito difícil para um pai trocar o filho de escola e explicar que o fez porque não podia mais arcar com o custo da mensalidade.
Da mesma forma, que pai não comprará os livros de que seu filho precisa para estudar? Com tudo isso, proporcionar boas escolas para os filhos implica sacrifícios para os pais. O nível do ensino não melhora, mas os custos vão à lua, como em uma piada de péssimo gosto.
Mostra, portanto, que educação, seja pública ou privada, não é prioridade.
É por isso que o cartel livreiro incomoda ainda mais. Há o que fazer? Com a palavra, as autoridades das áreas de defesa do consumidor e da concorrência, se tiverem algum interesse no assunto.

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